Silagem de sorgo: área com a cultura deverá crescer em 2024
A expectativa, segundo a Conab, é de que a cultura ocupe 1,5 milhão de hectares, aumento de 8,7% em relação à Safra anterior.
A expectativa, segundo a Conab, é de que a cultura ocupe 1,5 milhão de hectares, aumento de 8,7% em relação à Safra anterior.
Com a semeadura da segunda Safra de milho 2023/24 encerrada e áreas em Mato Grosso, na primeira quinzena de maio, iniciando a colheita, o mercado acompanha o clima e expectativas de produção.
Nos últimos anos, com bom desempenho produtivo, maior resistência a alguns fatores abióticos em algumas regiões e valor nutricional de sua silagem semelhante ao do milho, a participação do sorgo nas propriedades e sua utilização em sistemas de produção de bovinos em confinamento Brasil afora aumentou.
Para a Safra atual, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a área com sorgo chegue a 1,5 milhão de hectares – aumento de 8,7% em relação à Safra anterior.
Em grande parte das regiões produtoras de grãos, o sorgo pode ser semeado da segunda quinzena de fevereiro até meados de março, sem comprometer sua produtividade.
Embora não haja restrições para semeaduras mais precoces, como no início de fevereiro, dependendo da região, nesse momento o milho Safrinha acaba sendo a principal escolha do produtor.
De acordo com Sérgio Raposo de Medeiros, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, “a cultura do sorgo tem crescido em regiões de maior risco climático, especialmente os riscos relacionados aos veranicos, com a cultura do sorgo sendo mais resistente nesses casos, obtendo mais massa do que a cultura do milho, mais sensível aos veranicos.”
A Safra 2023/24, marcada por desafios na semeadura das culturas de verão no Centro-Oeste no fim de 2023, abriu espaço para o avanço dessa cultura.
Em Mato Grosso, por exemplo, o sorgo deverá avançar 29,7% em área, alcançando 108,0 mil hectares. Já em Goiás, o crescimento deverá ser de 11,3%, com a expectativa de que 428,2 mil hectares tenham sido semeados.
Após uma Safra (2022/23) com a maior produtividade da história (3,4 toneladas/hectare), a expectativa é que a produtividade seja 8,6% menor no ciclo atual (figura 1). A produção nacional, com o atual panorama, está estimada em 4,76 milhões de toneladas, próxima àquela obtida no ciclo passado (2022/23).
Figura 1. Sorgo no Brasil, produtividade e produção nos últimos anos.
*Estimativa em abril/24.
Fonte: Conab / Elaboração: Scot Consultoria
O Confina Brasil, que mapeia a pecuária de corte intensiva no país, visitou, em 2023, 180 confinamentos, que juntos somaram um total de 2,35 milhões de cabeças confinadas – aproximadamente 10% do rebanho brasileiro e 41,1% da estimativa de bovinos confinados no país.
O levantamento mostrou que 75,6% dos confinadores utilizam silagem própria, ou seja, produzem o seu próprio insumo. Além disso, aproximadamente 10% dos confinamentos utilizam o sorgo como cultura principal.
A colheita na fase apropriada de maturidade e a utilização de novas variedades de sorgo são importantes na hora do planejamento e uso do insumo. Acesse o portfólio para saber mais sobre os híbridos de sorgo da Brevant.
De acordo com Marcus Bueno, consultor pecuário, dono da Bueno Pecuária de Precisão e confinador em Gurupi (TO), “a utilização da silagem de sorgo no cenário atual é considerada estratégica em confinamentos, principalmente pelo fato da planta possuir exigência menor de chuvas e conseguir entregar uma boa massa com uma qualidade aceitável de fibra.”
Outro ponto de escolha desse material está relacionado ao manejo do solo. “Em áreas de implantação de forrageira, onde o solo foi gradeado e adubado, há a possibilidade de optarmos por um plantio de sorgo consorciado com capim, quando há uma janela onde não conseguimos mais semear o milho”, afirma Bueno.
Ao considerarmos a questão nutricional dessa silagem, Bueno destaca alguns pontos importantes: “O NDT da silagem de sorgo, bromatologicamente, é maior do que o da silagem de capim, porém, a maior parte do nutriente existente nessa silagem está nos grãos da planta. Para que consigamos entregar esse valor nutritivo aos bovinos, precisamos ser muito precisos em relação ao ponto de colheita e também nos processamentos de ensilagem - destaco nesse momento a efetividade do ‘cracker’ da ensiladeira em quebrar, ou ferir o grão, para auxiliar na disponibilidade dos nutrientes”.
O ponto ideal de colheita é um dos maiores gargalos na produção de grãos, mas, principalmente, de silagem. A antecipação do momento ideal para a colheita, quando a planta ainda não apresenta o teor de matéria seca (MS) desejada e os grãos ainda não acumulam quantidade suficiente de amido, é uma situação desfavorável à produção de silagem. Acesse aqui um passo a passo sobre como preparar uma boa silagem.
Com relação à silagem de sorgo, pensando no ponto de colheita, a regra, assim como para o milho, é realizar a determinação do teor de matéria seca. O teor considerado para o melhor aproveitamento do grão de sorgo fica entre 28% e 35% (CNA). Dentro desta faixa de matéria seca, permite-se boa compactação, menor risco de perdas ou chorume excessivo e melhor quantidade de amido do grão.
O primeiro passo será avaliar a maturidade dos grãos, verificando sua consistência. Sugere-se que se colham quando o ponto não ultrapassar os 35%, caso contrário, o grão torna-se muito resistente, dificultando a quebra pela ensiladeira, e consequentemente perda da eficiência digestiva dos animais. Há alguns pontos importantes a serem considerados:
- Ao determinar o ponto de maturidade do sorgo como adequado para o início da colheita, a ensilagem da área de sorgo “duplo propósito” (silagem e grão) deverá ocorrer, em, no máximo, 8 dias; no caso do sorgo “forrageiro”, em, no máximo, 15 dias; - A colheita com os grãos leitosos e baixo teor de MS (menor que 28%) diminui a produtividade, reduz valor energético e o consumo da silagem; - A colheita após o ponto adequado de maturidade (grãos duros dificulta a compactação e diminui a digestibilidade dos grãos), pode aumentar a perda destes nas fezes. |
Fonte: Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA
O primeiro passo é avaliar a maturidade dos grãos através de sua consistência, colhendo entre 8 a 10 panículas em pontos aleatórios.
A partir dessas panículas, retira-se um grão no meio de cada uma delas, para a avaliação da maturidade. Com o grão em mãos, pressionamo-lo entre os dedos, e se o grão apresentar consistência farinácea, sem a presença de “leite”, ele está maduro.
Além das panículas centrais, a avaliação dos grãos mais externos também deve ser realizada. Na avaliação dessas panículas, considera-se que o sorgo está no ponto para silagem quando os grãos mais externos da panícula, ao serem pressionados, não apresentam umidade.
Fonte: CNA
Se o material coletado for considerado no ponto, passamos para a etapa seguinte: a determinação do teor de matéria seca (MS), que pode ser realizada através de um micro-ondas.
Para isso, faça a picagem das plantas de modo uniforme e com o tamanho de partícula menor do que 10mm. Da amostra, devemos retirar 600 gramas e colocar em um saco plástico; desse material, retiraremos 100 gramas e os adicionaremos em um prato de papelão, seguindo os passos:
1 – Pesar o prato de papelão contendo a amostra após a secagem.
2 – Anotar o peso do prato de papelão contendo a amostra.
3 – Retornar o prato com a amostra para o micro-ondas por mais dois minutos.
4 – Pesar o prato de papelão contendo a amostra após a secagem.
5 – Anotar o peso do prato de papelão contendo a amostra.
6 – Retornar o prato com a amostra para o micro-ondas por mais um minuto.
7 – Pesar o prato de papelão contendo a amostra após a secagem.
8 – Anotar o peso do prato de papelão contendo a amostra.
9 – Retornar o prato com a amostra para o micro-ondas por 30 segundos.
10 – Pesar o prato de papelão contendo a amostra após a secagem.
11 – Anotar o peso do prato de papelão contendo a amostra.
12 – Repetir essa operação sucessivamente, com duração de 30 segundos no forno, até obter pesos constantes, pelo menos por três vezes consecutivas.
Figura 2. Exemplo de amostra de material pós-secagem.
Fonte: CNA
Após todo esse processo, teremos as seguintes informações:
Peso do prato de papelão |
13 gramas |
Peso inicial da amostra |
100 gramas |
Peso do prato + amostra (antes da secagem) |
113 gramas |
Peso final do prato de papelão + amostra (pós-secagem) |
45 gramas |
Peso final da amostra (pós-secagem) |
32 gramas |
De posse delas, calculamos o teor de matéria seca da amostra:
y = teor de MS em percentagem = teor de MS, %
100 g (peso inicial da amostra) __________ 100% do teor de MS
32 g (peso final da amostra) __________ y (teor de MS, %)
y (teor de MS, %) x 100 g (peso inicial da amostra) = 32 g (peso final da amostra) x 100% do teor de MS
y = [32 g (peso final da amostra) x 100% do teor de MS] ÷ 100 g (peso inicial da amostra) = 32%
Com essa informação, podemos considerar que o teor de matéria seca está dentro dos preceitos e podemos seguir para o processo.
O preço do sorgo tem forte relação com o do milho. Brasil afora o sorgo é comercializado com uma baliza referenciada em 70% do preço do milho.
Os preços do milho no mercado doméstico estão frouxos (tabela 1), apesar da perspectiva de menor produção na Safra atual e de estoques finais mais apertados ao fim de 2024.
Tabela 1. Preços do milho em diferentes praças produtoras no Brasil.
Fonte: Scot Consultoria
Com o preço do milho em queda, os preços do sorgo também caíram.
Mas, para o segundo semestre, a perspectiva é de que os preços trabalhem firmes, com aspectos relacionados ao balanço de oferta e demanda nacional pesando, conforme comentamos em nosso último artigo sobre o preço do milho e da soja. Recentemente (primeira quinzena de abril) tivemos ainda o atraso na semeadura da Safra norte-americana, que começou bem, mas perdeu ritmo.
Figura 3. Preços do milho, em reais/saca, em Campinas-SP, no mercado físico (azul) e no mercado futuro (laranja). Data-base: 10/5/2024.
Fonte: Scot Consultoria / B3
Referências
Companhia Nacional de Abastecimento
Confederação Nacional da Agricultura
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Scot Consultoria