Ciclo do sorgo: fenologia e fatores críticos para a produção
Fases de desenvolvimento e condições ideias para o cultivo do sorgo.
Fases de desenvolvimento e condições ideias para o cultivo do sorgo.
O sorgo (Sorghum bicolor [L.] Moench) é uma planta originária da África. Suas variedades cultivadas atualmente derivam do sorgo silvestre Sorghum bicolor subsp. Arundinaceum, sendo que a maior variação do gênero Sorghum encontra-se no quadrante centro-oeste da África, abaixo do Saara, na região da Etiópia-Sudão.
É nessa região que o gênero ancestral, com um número básico de cinco cromossomos, provavelmente se originou entre 5.000 e 6.000 anos atrás. No Brasil, o sorgo foi introduzido pelos negros escravizados trazidos da África, mas permaneceu pouco utilizado por muito tempo, até ser reintroduzido no Rio Grande do Sul.
A planta de sorgo, também conhecida como "milho d’Angola" e "milho da Guiné", adapta-se a uma ampla variedade de ambientes e produz sob condições desfavoráveis para a maioria dos outros cereais. Devido à sua resistência à seca, é considerada uma cultura mais adequada para regiões áridas com chuvas escassas.
O sorgo é uma planta autógama com baixa taxa de fecundação cruzada e metabolismo C4, típica de dia curto, exigindo temperaturas acima de 21 °C para um bom desenvolvimento. Tolerante ao déficit hídrico e ao excesso de umidade, pode ser cultivado em diversas condições de solo, possuindo geralmente um sistema radicular profundo que lhe confere maior capacidade de exploração do solo.
No Brasil, são cultivados quatro tipos de sorgo: granífero, forrageiro, sacarino e vassoura. O sorgo granífero se desenvolveu a partir do início da década de 70 e, segundo dados da CONAB, está concentrado nos estados das Regiões Centro-Oeste e Sudeste, que respondem por 85% da produção total do país.
O sorgo forrageiro, com o uso de híbridos de alta qualidade, se destaca como uma importante cultura para a produção animal.
O caule do sorgo é do tipo colmo, com 7 a 24 nós, dependendo do genótipo. A folha é anfiestomática, com estômatos em ambas as faces, e a inflorescência é uma panícula com eixo central (ráquis) de onde partem os eixos secundários, onde se localizam as espiguetas.
O conhecimento do padrão diferencial de acúmulo de matéria seca e de nutrientes, durante o ciclo da cultura do sorgo, permite avaliar as necessidades de adequadas práticas de manejo.
Durante os primeiros 20 ou 30 dias após a emergência, as plantas crescem lentamente; depois, o crescimento e a acumulação de matéria seca são rápidos e quase lineares, até a maturação fisiológica. Até os 30-40 dias após a emergência, as plantas se constituem praticamente da bainha e da lâmina foliar; e, após este período, começa o alongamento do colmo e o ganho rápido de peso.
A melhor adequação de práticas de manejo da cultura do sorgo está associada aos estádios fenológicos da planta, que variam de acordo com a cultivar, condições edafoclimáticas e práticas de manejo. As fases apresentadas a seguir representam o desenvolvimento de uma cultivar de sorgo granífero com ciclo de 100 dias, aproximadamente (Vanderlip; Reeves, 1972).
O ciclo do sorgo é dividido em três fases: vegetativa (EC1), reprodutiva (EC2) e maturação do grão (EC3). Na fase EC1, a rapidez na germinação e estabelecimento é crucial, pois a planta possui crescimento inicial lento e pobre controle de plantas daninhas, o que pode afetar o rendimento de grãos. Híbridos apresentam desenvolvimento de folhas e raízes mais rápido que variedades forrageiras.
Figura 1. Fases de desenvolvimento do sorgo
Fonte: Embrapa
Estádio 0 (emergência): da semeadura ao surgimento do coleóptilo na superfície do solo, que ocorre, geralmente, dentro de 4 a 10 dias, dependendo das condições ambientais (principalmente umidade, temperatura, oxigênio e qualidade da semente).
Estádio 1 (visível a lígula/colar ou cartucho da 3ª folha): ocorre, em condições normais, com cerca de 10 dias após a emergência.
Estádio 2 (visível a lígula/colar da 5ª folha): ocorre três semanas após a emergência.
Estádio 3 (diferenciação do ponto de crescimento, visível a lígula/colar da 8ª folha): ocorre cerca de 30 dias após a emergência e representa a mudança do ponto de crescimento de vegetativo para reprodutivo. Esta fase é determinada pelas condições do ambiente e pelas características genéticas da cultivar. O período do plantio à diferenciação do ponto de crescimento é de aproximadamente um terço do período necessário para a maturação fisiológica, ou ciclo da cultura.
Na fase EC2 (iniciação da panícula até o florescimento), o desenvolvimento da área foliar, sistema radicular e acumulação de matéria seca são fundamentais para o rendimento, com o número de sementes sendo o fator mais crítico.
Estádio 4 (visível a última folha denominada de folha bandeira): ocorre o rápido alongamento do colmo. Todas as folhas estão completamente desenvolvidas, com exceção das últimas três ou quatro.
Estádio 5 (emborrachamento): todas as folhas estão completamente desenvolvidas, resultando na máxima área foliar. A panícula alcança seu comprimento máximo, dentro da bainha da folha bandeira.
Estádio 6 (50% de floração): o período da emergência a 50% de floração (cerca de 60 dias) é de aproximadamente 2/3 do período da emergência à maturação fisiológica.
Na fase EC3 (floração até a maturação fisiológica), o enchimento dos grãos é o fator mais importante para a produtividade do sorgo.
Estádio 7 (grão leitoso): cerca de 50% da matéria seca dos grãos já foram acumulados (cerca de 70 dias após a emergência), e o peso do colmo diminui.
Estádio 8 (grão pastoso): cerca de 3/4 da matéria seca dos grãos já foram acumulados (cerca de 85 dias após a emergência).
Estádio 9 (maturidade fisiológica): os grãos estão com 22% a 23% de umidade (cerca de 95 dias após a emergência).
Figura 2. Fases de desenvolvimento do sorgo granífero
Fonte: Embrapa
A altura da planta de sorgo pode variar de 40 cm a 4 m, sendo influenciada por fatores genéticos e ambientais. A quantidade de nós é determinada pelos genes da maturação e sua reação ao fotoperíodo e temperatura, enquanto a distância dos entrenós varia conforme as condições genéticas e ambientais.
Figura 3. Planta de sorgo
Fonte: Embrapa
O sorgo requer menos água para se desenvolver em comparação a outros cereais, sendo o florescimento o período mais crítico em relação à falta de água. Em condições de estresse hídrico, o sorgo apresenta melhor desempenho que o milho devido a um sistema radicular mais desenvolvido e outras características adaptativas.
Figura 4. Sistema radicular da planta de sorgo
Fonte: Embrapa
A temperatura ideal para o crescimento do sorgo é em torno de 33 a 34 ºC, com produtividade reduzida acima de 38 ºC e abaixo de 16 ºC. Baixas temperaturas durante o desenvolvimento vegetativo (<10 ºC) podem causar reduções significativas na área foliar e no acúmulo de matéria seca.
A fotossíntese do sorgo é afetada pela quantidade de luz disponível, com menor impacto em EC1 e maior impacto em EC2 e EC3.
A área plantada com sorgo no Brasil tem mostrado crescimento constante nas últimas safras.
Em 2019/2020, ela foi de 835,4 mil hectares, com previsão de atingir 1.458,5 mil hectares em 2023/2024. A expansão é mais significativa nas Regiões Centro-Oeste e Sudeste, especialmente em estados como Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais.
Tabela 1. Área plantada com sorgo por estados brasileiros (1.000 ha)
Fonte: CONAB | SCOT Consultoria
Gráfico 1. Área colhida e produção de sorgo entre 2019 e 2025
Fonte: USDA | SCOT Consultoria
Tabela 2. Área colhida (1000 ha) e produção de sorgo no Brasil (2019-2025)
Fonte: USDA | SCOT Consultoria
Até 2024, o sorgo produzido no Brasil era quase inteiramente destinado à alimentação animal.
Nos últimos anos, iniciativas para fomentar o consumo pela alimentação humana têm se intensificado. Já temos bebidas como cerveja, massas e até mesmo farinha de sorgo. Por não conter glúten, ele se torna uma opção para dietas com restrição.
Outro mercado positivo para a cultura do sorgo atualmente é o aumento dos investimentos em indústrias de biocombustível, especialmente de etanol de sorgo. Essas indústrias estão ampliando e construindo novas plantas que podem processar vários cereais, além do milho, como sorgo, trigo e milheto. Uma das maiores indústrias de etanol do país anunciou que, com a inauguração de novas plantas em 2024 e 2025, terá capacidade para processar 2 milhões de toneladas de sorgo por ano. Isso representa 40% da produção nacional. A instalação dessas indústrias em estados como Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins, Maranhão e Bahia pode tornar o sorgo uma das culturas com maior potencial de crescimento. Essa ação oferece uma opção rentável para os agricultores na segunda Safra.
Referências
DE PRODUÇÃO, S. Sorgo Cultivo do Sorgo Sumário Ecofisiologia Dados Sistema de Produção Embrapa Milho e Sorgo. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/748779/1/Sorgo-Ecofisiologia.pdf.
GUILHERME, D. et al. ORIGEM E IMPORTÂNCIA DO SORGO PARA O BRASIL. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/47291/1/Circ-1-Origem-importancia.pdf.
MAGALHÃES, P. et al. Capítulo 3. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/229658/1/Cap-3-Biologia-fisiologia-do-sorgo.pdf.