Expectativas para o preço do milho e da soja no segundo trimestre
Primeiro trimestre foi marcado por queda generalizada nos preços no mercado de commodities agrícolas.
Primeiro trimestre foi marcado por queda generalizada nos preços no mercado de commodities agrícolas.
O mercado de grãos está pressionado para baixo desde o início do ano.
O preço da soja, em Paranaguá-PR, caiu 14,3%, negociado em R$125,50/saca, ao fim de março/24. Já a cotação do milho, tendo como base Campinas-SP, recuou 10,2%, negociada a R$61,50/saca.
O que pressionou o mercado e qual a expectativa para o mercado de soja e milho para os próximos meses?
Figura 1. Preço da soja em grão (eixo da esquerda), em Paranaguá-PR, e do milho (eixo da direita), em Campinas-SP, em R$/saca.
Fonte: Scot Consultoria.
A colheita da Safra de soja 2023/24 está na reta final. A Safra foi marcada por desafios climáticos durante o desenvolvimento das lavouras (novembro–janeiro), com chuvas abaixo do normal e mal distribuídas no Centro-Norte, e perdas de produtividade. Com isso, a produção brasileira será menor (figura 2).
Figura 2. Estimativa de produção de soja no Brasil, em milhões de toneladas.
Fonte: Conab / Elaboração: Scot Consultoria.
O Brasil é o maior produtor de soja no mundo, e, mesmo com a quebra de produção, os preços da oleaginosa caíram. Por quê?
Após grande frustração na última Safra, espera-se recuperação da produção na Argentina, terceiro maior produtor global, em 2023/24. Além disso, mesmo com o recorde de quebra de produção no Brasil, os estoques finais globais, importantes balizadores da tendência de preços, cresceram nas últimas safras (figura 3) – pressionando as cotações no mercado internacional, e refletindo no Brasil.
Figura 3. Estoques finais de soja no mundo, em milhões de toneladas.
Fonte: USDA / Elaboração: Scot Consultoria
A exportação de soja cresceu no primeiro trimestre de 2024, em relação a 2023 (figura 4). O quadro tem sido favorável, pois, apesar da maior oferta na América do Sul, a demanda segue firme e o Brasil tem sido protagonista no cenário internacional.
Já a exportação de milho, veio com desempenho menor no comparativo anual, mas, ainda assim, um bom desempenho em meio ao histórico (figura 4). É importante lembrarmos que, em 2023, o Brasil se beneficiou da abertura chinesa às compras de milho brasileiro, em novembro/22, após anos de negociação, impulsionado pelo conflito Rússia-Ucrânia.
Figura 4. Exportação de soja e milho em grão, em milhões de toneladas, por trimestre.
Fonte: Secex / Elaboração: Scot Consultoria.
Desde as primeiras estimativas, esperava-se menor área total (primeira, segunda e terceira safras) e, consequentemente, menor produção para a cultura no ciclo 2023/24. Com preços pouco atrativos, o milho perdeu área: no Sul, para o arroz, e no Centro-Oeste, para o algodão, além do sorgo.
Ao longo do desenvolvimento da primeira Safra e dos problemas climáticos, a produção brasileira foi revisada para baixo.
Figura 5. Estimativa de produção de milho no Brasil, em milhões de toneladas.
Fonte: Conab / Elaboração: Scot Consultoria.
A Safra de verão 2023/24 está com a colheita em andamento. O desenvolvimento das lavouras também foi marcado por desafios climáticos, com o excesso de chuvas impactando mais a Região Sul, principal produtora do país.
Já a semeadura da segunda Safra está na reta final no Brasil e pairam muitas dúvidas, dúvidas que poderão influenciar positivamente os preços.
Apesar do atraso da semeadura da soja, a semeadura do milho Safrinha ocorreu dentro da janela ideal para a cultura, na maior parte do Brasil, mas alguns fatores devem dar sustentação e movimentar o mercado do milho. Vamos analisá-los?
Após um ano marcado pelo El Niño, com recorde de temperatura no Brasil, chuvas irregulares no Centro-Norte e excesso de chuvas no Centro-Sul, espera-se que o fenômeno perca intensidade, e, a partir do segundo semestre, o La Niña volte a atuar.
A expectativa é de um período dentro da normalidade, ou com ligeiro volume acima do normal em algumas regiões do Centro-Sul (figura 6) – típico do outono – para o próximo trimestre.
Merecerá maior atenção, principalmente, o Norte e Nordeste do país, onde está previsto volume precipitado acumulado até 50 mm abaixo do normal.
Figura 6. Anomalia de precipitação (mm), para abril-maio-junho, atualização em março/24.
Fonte: INMET.
Nas regiões onde estão previstas precipitações dentro da normal ou ligeiramente acima para o período, o volume precipitado em março (figura 7) contribuiu para o desenvolvimento inicial das lavouras, elevando a expectativa de bons rendimentos para a segunda Safra de milho.
Figura 7. Precipitação acumulada em março/24.
Fonte: INMET.
Como o clima poderá impactar os preços? Se a produtividade aumentar, beneficiada pelo clima, a oferta no mercado interno poderá aumentar e os preços podem cair. O oposto é verdadeiro, e, em um quadro de demanda aquecida e estoques menores, acreditamos que apenas um aumento expressivo em produtividade pressionaria com maior força o mercado de milho.
Comentamos que esperava-se menor produção na Safra 2023/24 desde as primeiras estimativas, em função da perspectiva de menor área e redução na produtividade, que foi recorde em 2022/23, e impulsionou a produção de 131,9 milhões de toneladas na época.
Apesar da produção recorde, o consumo também aumentou, com destaque à exportação, que em função do conflito Rússia x Ucrânia e da abertura da China ao milho brasileiro no fim de 2022, aumentou e foi recorde em 2023.
Com isso, a Safra brasileira foi praticamente toda consumida e os estoques finais foram reduzidos para a entrada da Safra 2023/24 (figura 8).
Figura 8. Demanda total (demanda interna + exportação) e suprimento (produção + estoque do ano anterior), em milhões de toneladas.
*fev/24; **mar/24.
Fonte: Conab / Elaboração: Scot Consultoria.
Para 2023/24, a Safra de milho (1ª, 2ª e 3ª safras) está estimada em 112,8 milhões de toneladas (mar/24), uma retração frente às expectativas iniciais, que estimava a produção de 119,4 milhões (out/23).
As expectativas iniciais para 2023/24 apontam que haverá redução nos estoques finais de milho no último trimestre.
A semeadura norte-americana da Safra de soja e milho 2024/25 começou em abril. A perspectiva é de menor área para o milho, mas aumento da produtividade e recuperação da produção.
Se o clima pesar na condição das lavouras locais, há a possibilidade de aumento nos preços no mercado internacional – refletindo nas cotações no mercado brasileiro.
Em 1/4/2024, o USDA apresentou o primeiro relatório de semeadura da Safra norte-americana. Para o milho, os trabalhos concentram 2,0% das lavouras estimadas, em linha com o ritmo durante a Safra anterior.
O perfil hídrico das lavouras de milho nos Estados Unidos nesse começo de temporada está bom: apenas 8,0% das áreas produtoras estão sob algum quadro de seca (figura 9).
Para a soja, a situação está pior e 22,0% das áreas estão sob estresse hídrico (figura 10). A semeadura da soja no país começará nas próximas semanas.
Figura 9. Condição de seca nas lavouras de milho nos Estados Unidos, até 2/4/24.
Figura 10. Condição de seca nas lavouras de soja nos Estados Unidos, até 2/4/24.
Fonte: USDA.
No mercado de milho, com o aumento na demanda e uma produção menor, os preços no mercado futuro indicam estabilidade às cotações do cereal, mesmo com o avanço da colheita da segunda Safra – as referências atuais já foram maiores, em função dos fatores comentados no começo deste artigo.
Figura 11. Preço do milho, em R$/saca, no mercado físico, em Campinas-SP, e no mercado futuro (B3).
Referência em: 7/4/2024.
Fonte: Scot Consultoria / B3.
Se o clima colaborar, a produtividade e produção poderão ser maiores que as estimativas vigentes, cenário que pode tirar a sustentação atual dentro dos próximos meses.
Mas, se o clima impactar o desenvolvimento da Safra norte-americana e das lavouras de segunda Safra no Brasil, com o atual recorde de menor produção, estoques menores e demanda firme, há a possibilidade de alta nas cotações durante a colheita da segunda Safra.
Com a entrada do La Niña no segundo semestre, para a Safra 2024/25 no Brasil, crescem as chances de estiagem e redução na produtividade no Sul do Brasil, região de maior concentração de produção na primeira Safra, elevando o risco de menor oferta durante o primeiro trimestre de 2025, onde os estoques finais e a primeira Safra têm peso maior na precificação do grão.
Além disso, as chances de atrasos na semeadura/colheita da Safra brasileira de verão, aumenta o risco de que o milho de segunda Safra seja semeado tardiamente, representando um risco à produção da Safrinha do cereal em 2025, já que a chuva pode cessar antes e impactar no desenvolvimento e enchimento de grãos.
Para o último trimestre de 2024, a perspectiva atual é de alta nos preços, com a entressafra e a expectativa de estoques menores pesando na oferta e dando sustentação às cotações, e os riscos climáticos podendo pesar na precificação no mercado interno.
Referências
Administração Nacional Oceânica e Atmosférica – NOOA, em inglês
Companhia Nacional de Abastecimento
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
Scot Consultoria