Blog •  29/10/2024

Pré-semeadura: práticas para um bom manejo do solo

 Julia Monsalve, graduanda em Zootecnia; Felipe Fabbri, zootecnista, me.
Something went wrong. Please try again later...

Informação e planejamento são fundamentais para o desenvolvimento da lavoura pré-semeadura.

Enquanto a semeadura de inverno está em andamento, a de verão deve começar no segundo semestre. Para garantir boa produtividade e sustentabilidade de ambas, o planejamento é essencial. Quanto mais conhecimento se tem sobre o ambiente de trabalho, melhor é a preparação para enfrentar possíveis adversidades.

O desenvolvimento de qualquer cultura depende, entre outros fatores, das condições edafoclimáticas do local de semeadura. No entanto, como as condições climáticas são incontroláveis, a melhor estratégia é buscar programar os próximos passos.

As culturas requerem condições e manejos específicos para um melhor desenvolvimento. Entretanto, algumas podem seguir atividades similares. Independentemente da cultura, o planejamento da Safra e a pré-semeadura são essenciais. 

Neste artigo, abordaremos ponto a ponto a importância do processo de pré-semeadura e aspectos essenciais para otimizar o início do ano-agrícola!

Pré-semeadura: planejamento agrícola e correção do solo

Tudo começa pelo planejamento agrícola, definindo os objetivos para a Safra, os métodos de cultivo, o orçamento e as atividades necessárias para a realização das operações, bem como a contratação de maquinários e funcionários, programação de compras e escolha da variedade/híbrido que será utilizado. 

Mas como iniciar o meu planejamento?

Análise do solo

Ponto de partida: a análise do solo. A partir dessa etapa se obtém um panorama da qualidade (matéria orgânica, capacidade de troca de cátions CTC, pH, entre outros), além de uma análise da estrutura do solo (densidade, porosidade e estabilidade dos agregados) para maior compreensão do suporte do solo à atividade agrícola e a determinação da categoria e da dosagem dos fertilizantes escolhidos.

A coleta pode ser feita em qualquer época do ano, mas o ideal é no início do período da seca, pois o solo ainda vai estar em boas condições de umidade para facilitar a coleta e o produtor terá tempo para adquirir os insumos e realizar o plantio ou semeadura no início da estação chuvosa. 

No caso de áreas de pastagem, a coleta de solo deve ocorrer de dois a três meses antes do máximo crescimento vegetativo da forrageira. Para lavouras perenes em produção, a coleta deve ser feita de preferência após a colheita.

Todos os equipamentos devem estar limpos e sem resíduo de adubo ou calcário.

Figura 2. Equipamento e método de coleta de solo para análises laboratoriais.

Fonte: Embrapa

As amostras são coletadas, geralmente, na profundidade de 0 a 20 cm. Contudo, pode variar de acordo com o objetivo, conforme a tabela 1.

Tabela 1. Perfil de amostragem do solo por tipo de cultura e sistema de cultivo.

A área a ser amostrada deve ser dividida em talhões/glebas homogêneas, que deverão ser separadas pela cor do solo, textura (arenoso ou argiloso), topografia, vegetação presente, manejo, etc.

Para cada área homogênea delimitada serão coletadas várias amostras simples que constituirão uma amostra composta que será enviada para análise no laboratório.

Tome nota.

Amostra simples - também chamada de subamostra, é a porção coletada em cada ponto de amostragem, na profundidade desejada, dentro da gleba homogênea. 

Amostra composta - é a mistura homogênea constituída pelas várias amostras simples coletadas no talhão. Essa é a amostra que vai para análise no laboratório de solos.

Distribuição de amostragens simples (números) ao longo de um talhão. 

Fonte: Embrapa

Correção do solo: calagem, gessagem e adubação eficientes

A partir desses dados, determinamos pontos a serem corrigidos durante a fase de correção do solo. Nesta etapa, o manejo realizado inclui a calagem para a correção da acidez, realizada com antecedência para garantir a reação do calcário, seguida pela gessagem e adubação para corrigir a fertilidade. 

Os solos brasileiros são ácidos em sua maioria. A acidez, representada basicamente pela presença de dois componentes (íons H+ e Al+3), tem origem pela intensa lavagem e lixiviação dos nutrientes do solo, pela retirada dos nutrientes catiônicos pela cultura sem a devida reposição e, também, pela utilização de fertilizantes de caráter ácido.

A calagem tem por objetivo: 

  • Eliminar a acidez do solo e fornecer suprimento de cálcio e magnésio para as plantas, pela presença do cálcio, que estimulará o crescimento das raízes, o aumento do sistema radicular e maior exploração da água e de nutrientes do solo.

  • Aumentar a disponibilidade de fósforo por meio da diminuição dos sítios de fixação no solo.

  • Reduzir a disponibilidade de alumínio e manganês pela formação de hidróxidos que não são absorvidos.

  • Aumentar a mineralização da matéria orgânica com consequente aumento da disponibilidade de nutrientes e favorecimento à fixação biológica de nitrogênio.

  • Nas propriedades físicas do solo, o processo aumenta a agregação, uma vez que o cálcio é um cátion floculante e, com isso, diminui a compactação do solo.

Mas existem cuidados que devem ser tomados: calagem em excesso, ou mal aplicada, pode ter efeito negativo na disponibilidade de micronutrientes.

Figura 3. Aplicação de calcário em área agrícola.

Fonte: Embrapa.

Tome nota.

Para saber a quantidade de insumo a ser utilizado no processo de calagem, o método mais comumente utilizado no Brasil é o cálculo de saturação de bases.

NC = [CTC x (V2 – V1) x (100/PRNT)] / 100

Onde:

NC = Necessidade de calcário, em t/ha;

CTC = CTCpH7 (capacidade de troca de cátions) em cmolc/dm3;

V2 = Porcentagem de saturação por bases desejada;

V1 = Porcentagem de saturação por bases atual do solo (encontrada na análise do solo);

PRNT = Poder relativo de neutralização total (encontrado na embalagem do calcário).

 A fórmula do cálculo de calagem não muda em função da cultura. No entanto, a recomendação de V% (saturação de bases) é diferente entre as culturas. Para cereais, a recomendação é de 50%, enquanto para leguminosas fica em torno de 60%.

Dessecação

A dessecação é fundamental para o bom estabelecimento da cultura a ser semeada, considerando que as plantas invasoras competem por espaço, luz, água e nutrientes, além de controlar pragas que sobreviveram na vegetação anterior – como o milho tiguera, por exemplo. 

Esta etapa é realizada para o controle de plantas daninhas e retirada de culturas antecessoras, pelo controle mecânico ou controle químico (aplicação de herbicidas) no solo ou nas plantas 30 dias antes da semeadura/plantio. 

O controle químico garante eficiência e praticidade no manejo de plantas daninhas. Entretanto, a escolha pode variar de acordo com a espécie de invasora e cultura em questão. 

Quer conferir algumas das melhores soluções do mercado para manejo de daninhas nas culturas da soja e do milho? Conheça o portfólio de proteção de cultivos da Corteva Agriscience!

Preparo do solo na pré-semeadura

Após as análises e correções do solo, o ambiente estará apto para a próxima etapa, o preparo do solo. 

Preparar o solo objetiva melhorar a estrutura da área, promovendo as condições necessárias para evitar erosão. No entanto, as atividades realizadas dependem do sistema escolhido, podendo ser o plantio direto ou convencional.

No caso do plantio direto, em resumo, o manejo requer menos maquinários e etapas, seguindo as seguintes fases: escolha das sementes, realização do sulco de semeadura, semeadura, adubação e, caso necessário, aplicação de herbicidas. 

Também pode ser realizada a adoção do método convencional, mas o perfil da agricultura brasileira, hoje, o torna pouco atrativo e, cada dia mais, em desuso nas propriedades brasileiras. 

Figura 4. Comparação dos equipamentos necessários em cada tipo de plantio.

Fonte: Adaptado de Corn Agronomy / Elaborado por Scot Consultoria

lém dos manejos a campo, alguns fatores devem ser considerados no pré-plantio, visto que as etapas realizadas nessa fase promovem um ambiente mais propenso à produtividade da cultura.

O produtor deve atentar-se ao vazio sanitário, período em que algumas espécies, cultivadas ou não (plantas invasoras), devem ser retiradas da área, com objetivo de reduzir as probabilidades de pragas e doenças da cultura anterior. 

Essa prática é regulamentada pelo Estado, possuindo duração e períodos específicos em cada estado brasileiro, e caso não seja cumprida, o responsável pode estar sujeito a punições e multa. 

Outro ponto importante é a regulagem dos maquinários agrícolas, sejam eles tratores, pulverizadores, implementos, plantadeiras, entre outros. Esses equipamentos devem estar prontos para uso, garantindo segurança e eficiência nos manejos.

Como comentado anteriormente, as condições climáticas são incontroláveis, porém temos projeções dos eventos meteorológicos. O acompanhamento do clima é imprescindível para um plantio bem-sucedido. Por este motivo, o produtor deve acompanhar fontes seguras de informação para alinhar suas práticas agrícolas, sejam elas quais forem, aos dias mais favoráveis (quando possível). 

Figura 5. Fluxograma das etapas de pré-semeadura e preparo do solo.

Destaques para o produtor em cada uma das fases da sua operação.

·        Colheita (janeiro – junho)

Momento de avaliar a produtividade da Safra anterior e iniciar o planejamento para o novo ciclo.

 ·        Preparo do solo – fase de análise do solo (junho – julho)

 Fase de coleta de amostras para análise de fertilidade e estrutura do solo.

 A partir dos resultados, identificam-se as deficiências e realiza-se o planejamento das correções necessárias (calagem, gessagem, adubação).

 ·        Preparo do solo – fase de correções (julho – agosto)

 Momento de aplicação dos corretivos no solo (calcário, gesso), conforme as recomendações determinadas pela análise do solo realizada previamente. A correção de acidez e outras condições do solo são essenciais para garantir um bom desenvolvimento das raízes na próxima Safra.

 ·        Preparo do solo – fase de dessecação (agosto – setembro)

 É hora de aplicar os herbicidas para eliminar plantas invasoras e preparar o solo para a semeadura da próxima Safra. A dessecação é fundamental para controlar a matocompetição, permitindo um melhor aproveitamento de água e nutrientes pela cultura.

 ·        Preparo do solo – gradagem e sulcamento (setembro – outubro)

Gradagem, sulcamento e outras práticas de manejo para deixar o solo pronto para o plantio. O preparo do solo garante uma boa estrutura para o desenvolvimento radicular, evitando compactação e melhorando a absorção de água e nutrientes.

·      Semeadura (outubro – dezembro)

Início do plantio da Safra de verão (soja e milho). Momento decisivo para a definição do estande da cultura e início do novo ciclo produtivo.

É importante lembrar: cada etapa necessita de planejamento e atenção, de modo a impactar positivamente a Safra atual e garantir bons impactos nas seguintes. 

Gostou do que viu por aqui? Então siga a Brevant® Sementes no Instagram e acompanhe mais dicas e conteúdos exclusivos!