Mosaico-comum do milho: impactos na produção brasileira
Mosaico-comum do milho brasileiro. Saiba como a doença afeta a Safra e quais as estratégias para minimizar riscos.
Mosaico-comum do milho brasileiro. Saiba como a doença afeta a Safra e quais as estratégias para minimizar riscos.
O mosaico-comum do milho teve seu primeiro relato no Brasil na década de 1970. Trata-se de uma das doenças virais mais significativas que afetam a produção de milho atualmente no país. Sob condições favoráveis para a disseminação desse vírus, os híbridos de milho suscetíveis ao mosaico-comum podem apresentar perdas de até 50% na produtividade. Isso destaca a importância de práticas de manejo integrado de doenças, incluindo o uso de cultivares resistentes e controle de plantas daninhas hospedeiras. Além disso, é preciso utilizar de outras medidas preventivas para minimizar os impactos negativos dessa virose na agricultura.
O mosaico-comum no milho é causado por uma estirpe do vírus do mosaico da cana-de-açúcar, que também é conhecido como Sugarcane mosaic virus (SCMV), do gênero Potyvirus, pertencente à família Potyviridae. Além disso, ele é transmitido por afídeos, com destaque para o pulgão do milho (Rhopalosiphum maidis) como vetor de transmissão. Diversas espécies de gramíneas são suscetíveis a esses Potyvirus. No Brasil, destacam-se as seguintes: Brachiaria plantaginea (capim-marmelada), Digitaria horizontalis (capim-colchão) e Eleusine indica (capim pé-de-galinha). Essas espécies estão entre as plantas daninhas mais comuns nas lavouras de milho. Portanto, essas plantas hospedeiras podem servir como reservatório de inóculo do vírus na ausência do milho no campo.
O pulgão Rhopalosiphum maidis é um inseto polífago que afeta várias culturas, incluindo milho, cana-de-açúcar, trigo, sorgo, aveia, centeio, cevada, painço e gramíneas silvestres. Esse inseto é conhecido pela sua capacidade de transmitir várias viroses às plantas, incluindo o vírus do mosaico-comum do milho. Além disso, ele é caracterizado por seu ciclo de reprodução assexuada, por partenogênese, e envolve estágios de desenvolvimento específicos. O ciclo de vida completo, do ovo ao adulto, pode ser concluído em cerca de 10-14 dias. Esse ciclo depende das condições ambientais, como temperatura e disponibilidade de alimento, já que o aumento de temperatura tem impacto significativo no desenvolvimento desse inseto, ou seja, o desenvolvimento é acelerado em temperaturas mais elevadas. Portanto, esse processo de reprodução rápida contribui para o aumento rápido das populações de pulgões sob condições favoráveis.
Ademais, alguns resultados em avaliação de incidência do mosaico-comum do milho em relação à época de plantio, precipitação pluviométrica, temperatura e umidade relativa sugerem tendência de maior incidência nos plantios realizados nos meses de novembro, dezembro e janeiro. Isso coincide com períodos de precipitações pluviométricas mais elevadas e temperaturas mais altas durante o verão.
Com base nesses dados, devemos considerar estratégias de manejo específicas durante os plantios realizados nesses meses. Por fim, é essencial escolher cultivares resistentes e monitorar intensivamente a presença de afídeos.
Os pulgões podem transmitir vírus de plantas de forma não persistente. Isso significa que o inseto não multiplica o vírus, mas o adquire rapidamente ao se alimentar da seiva de plantas infectadas. Quando o pulgão se alimenta de uma planta saudável após ter se alimentado de uma planta infectada, ele pode transmitir o vírus para a planta saudável, sendo possível detectar os primeiros sintomas em plântulas uma semana após a inoculação. Quanto mais jovem a plântula de milho infectada pelo vírus, maiores serão os danos na produção (Shukla et al., 1994). Portanto, é importante monitorar de perto a presença de pulgões nas plantações, especialmente durante os estágios críticos de crescimento das plantas, e implementar estratégias de controle adequadas, como o uso de inseticidas, se necessário, para prevenir infestações graves e a disseminação dessa doença.
Outro ponto a se considerar é a sobreposição de ciclos de cultivo do milho (Safra verão finalizando e Safra inverno iniciando), que é um fator importante que contribui para a disseminação do vírus do mosaico-comum, permitindo que o vírus seja transmitido de plantas infectadas para plantas sadias através do vetor no momento em que ele se move entre as plantas. Quando há alta densidade de plantas de milho em diferentes estágios de desenvolvimento na mesma área, também conhecido como “ponte verde”, isso cria condições ideais para a persistência e a disseminação desse vírus. Além disso, o grande número de hospedeiros potenciais, incluindo outras plantas daninhas e culturas hospedeiras alternativas, contribui para a manutenção do inóculo viral no campo, aumentando o risco de infecção para as culturas de milho suscetíveis.
Portanto, o manejo adequado dos ciclos de cultivo, incluindo práticas de rotação de culturas e controle de plantas daninhas, é fundamental para reduzir a disseminação e o impacto do mosaico-comum do milho.
A virose do mosaico-comum causa uma série de sintomas distintos nas plantas de milho, principalmente nas fases iniciais de infecção. Aqui estão os principais sintomas observados:
Manchas cloróticas irregulares nas folhas: pequenas manchas cloróticas irregulares aparecem nas folhas das plântulas de milho infectadas. Essas manchas são um sintoma característico da infecção pelo vírus do mosaico-comum. Além disso, é fácil identificar essas manchas em plantas de milho jovens, e elas tendem a desaparecer quando as plantas atingem a maturidade.
Recuperação parcial dos sintomas nas plantas adultas: à medida que as plantas de milho se desenvolvem, os sintomas foliares podem se recuperar, tornando-se menos visíveis. No entanto, isso pode dificultar a identificação da infecção em plantas adultas, mas mesmo com a recuperação dos sintomas visíveis, as plantas ainda sofrem danos substanciais causados pelo vírus.
Encurtamento dos internódios e redução em altura: as plantas afetadas pelo mosaico-comum apresentam encurtamento dos internódios, o que resulta em redução na altura geral da planta. Consequentemente, isso pode afetar o desenvolvimento e o tamanho final das plantas de milho.
Desenvolvimento anormal das espigas: as espigas das plantas infectadas podem se tornar pequenas e apresentar falhas na formação dos grãos. Algumas espigas podem ter apenas grãos esparsos ou até mesmo não se desenvolverem adequadamente, exibindo apenas um primórdio de sabugo e ausência completa de grãos.
Quebramento de plantas: Outro sintoma que pode ser observado é o colmo apresentar um retorcimento seguido de quebramento até o terceiro nó, mesmo na ausência de qualquer sinal de doença de solo ou podridão.
Impacto na produção de milho: o vírus do mosaico-comum pode causar danos significativos à produção de milho, especialmente quando infecta as plantas precocemente. Portanto, quanto mais cedo o vírus infectar a plântula, maiores serão os danos e as perdas na produção.
Implementar medidas de manejo eficazes para prevenir a infecção pelo vírus do mosaico-comum é importante. Além disso, monitorar regularmente as plantações e identificar precocemente os sintomas é essencial para mitigar os impactos dessa virose nas plantas de milho. Abaixo, citamos algumas medidas:
Utilização de cultivares resistentes: optar por cultivares de milho que sejam geneticamente resistentes ao vírus do mosaico-comum pode ser uma estratégia eficaz para reduzir a incidência da doença. Os pesquisadores desenvolvem essas variedades para resistir ou tolerar a infecção pelo vírus, o que pode limitar sua propagação e os danos às plantas.
Eliminação de fontes de inóculo: remover ou controlar as fontes de inóculo do vírus é crucial. Isso pode incluir a eliminação de plantas de gramíneas (como capim, sorgo ou outras culturas hospedeiras) que estão infectadas com o vírus na área de plantio do milho. Ao reduzir as plantas hospedeiras próximas que podem abrigar o vírus, diminui-se a probabilidade de infecção do milho.
Controle de vetores (afídeos): é importante considerar estratégias de controle de afídeos, como o pulgão do milho (Rhopalosiphum maidis) que transmite o vírus do mosaico-comum do milho. Isso pode envolver o uso de inseticidas ou práticas de manejo integrado de pragas para reduzir a população de afídeos na área de cultivo.
Rotação de culturas: implementar a rotação de culturas pode ajudar a interromper o ciclo de vida do vírus e dos afídeos. Alternar o milho com culturas não hospedeiras do vírus pode reduzir a pressão de doenças na área.
Monitoramento regular: realizar o monitoramento regular das plantações para detectar precocemente quaisquer sinais de infecção pelo vírus do mosaico-comum. Isso permite a implementação rápida de medidas de controle adequadas, como o uso de cultivares resistentes ou outras práticas de manejo.
Por fim, é importante realizar ajustes no calendário de plantio para evitar períodos climáticos mais propícios à proliferação dos vetores. O controle integrado de pragas e doenças, aliado ao conhecimento das condições climáticas locais, pode ser fundamental para minimizar os impactos do mosaico-comum do milho durante as épocas mais críticas.
Os programas de melhoramento genético de milho realizam a avaliação de novas cultivares e híbridos quanto à tolerância ao mosaico-comum (Schuelter et al., 2003); porém, não há recomendação de cultivares resistentes à doença. No entanto, a adoção de cultivares tolerantes evita que o mosaico-comum ocasione grandes perdas na cultura. Além disso, a combinação dessas medidas pode ajudar a reduzir a incidência e os danos causados pelo mosaico-comum do milho, contribuindo para uma produção mais saudável e sustentável dessa cultura.
Escrito por Kaline Lorenzon - Agronôma de Campo da Brevant® Sementes