Mulheres se destacam na liderança do agronegócio
Dados da Embrapa apontam que o número de estabelecimentos rurais dirigidos por mulheres tem aumentado a cada ano.
Dados da Embrapa apontam que o número de estabelecimentos rurais dirigidos por mulheres tem aumentado a cada ano.
Nos últimos anos, cada vez mais mulheres têm assumido o protagonismo no agronegócio, dentro e fora da porteira, ocupando espaços estratégicos na agricultura e na pecuária. Dados mais recentes do Observatório das Mulheres Rurais do Brasil, da Embrapa, apontam que o número de estabelecimentos rurais dirigidos por mulheres saltou de 656 mil, em 2006, para 946 mil, em 2017. Deste total, 81% são propriedades da agricultura familiar.
O avanço de mulheres no agronegócio em vários segmentos comprova que a força e a determinação da mulher do campo não só mudam a realidade de suas famílias e de suas comunidades, mas também influenciam outras na busca pelo sucesso e realização.
Em homenagem ao Dia da Mulher Rural, comemorado em 15 de outubro, o blog Além da Lavoura conversou com algumas dessas mulheres que estão ocupando cargos estratégicos no agronegócio.
Filha de pais agricultores, Edilce da Silva Duarte, 36 anos, é produtora rural na cidade de Sulina, no Sudoeste do Paraná, onde trabalha há mais de 10 anos com produção de leite. Ela implantou um novo modelo de gestão na propriedade e a tornou referência em gestão de conservação do solo e produção de leite a pasto. Hoje o sítio administrado em parceria com o marido, Sinivaldo de Abreu, é uma unidade de referência do Programa Leite Sudoeste, desenvolvido pelo Governo do Paraná em parceria com a prefeitura de Sulina.
No sítio de Edilce, de 9,6 hectares, são desenvolvidas as pesquisas do projeto com foco na utilização de híbridos de milho para a silagem de qualidade, agregada à produção de leite a pasto. Ali, ela se dedica à criação de 30 vacas, 26 delas em lactação.
“Desde 2021 temos uma parceria com Brevant® Sementes, que foi a principal marca de híbrido que se colocou à disposição da propriedade para trabalhar nesse projeto. Por meio dessa parceria, também realizamos palestras, dias de campo e formação dos produtores, levando conhecimento de forma gratuita e agregando rentabilidade para as propriedades”, diz ela.
A produtora acredita que a mulher faz a diferença no agronegócio porque tem uma sensibilidade maior em lidar com pessoas e consegue trabalhar com o serviço pesado até o mais leve. “Ela também consegue circular em vários meios e equilibrar tudo, seja na maternidade ou no âmbito profissional. A mulher ainda tem muito potencial para crescer mais dentro do agronegócio do que já vem mostrando”, afirma.
Na propriedade, o sucesso e o trabalho são divididos de forma igual entre Edilce e Sinivaldo. Eles trabalham em uma harmoniosa parceria, na qual ambos têm o controle total da propriedade. “O que um faz o outro também faz. Os dois são administradores, parceiros de negócio, trabalham na mão de obra, na gestão, no financeiro. Nenhum tem mais influência do que o outro, nem existe submissão um ao outro. Somos parceiros”, confidencia.
A vida profissional de Edilce tomou um novo rumo depois que ela enfrentou um grande desafio e precisou abrir mão de um sonho pessoal. Por uma questão de saúde, a produtora não conseguiu ter filhos. “Quando me dei conta que não seria mãe, foquei na vida profissional e consegui superar esse meu desafio emocional. Hoje me sinto realizada e completa”.
Foi essa dedicação e a busca pela excelência que levou Edilce à realização de outro sonho: o reconhecimento pelo seu trabalho. “Eu sonhava em ser reconhecida por inspirar outras pessoas, porque no agronegócio a mulher tem essa dificuldade. E isso aconteceu em 2022, quando recebi o prêmio Orgulho da Terra. Foi algo em nível estadual e teve grande repercussão”, conta ela, orgulhosa pela conquista.
Edilce conta que ainda tem sonhos para o futuro, e o principal deles é conhecer a Europa. “É um sonho a longo prazo, mas que eu pretendo realizar. Conhecer lugares diferentes, pessoas diferentes, realidades diferentes, culturas diferentes”.
A exposição da propriedade de Edilce dentro do projeto tem motivado outras produtoras na região a investirem para melhorar suas atividades. “Percebo que outras mulheres se inspiram em mim para buscar conhecimento e tomar atitudes da porteira para dentro. Felizmente eu ouço muito isso. Eu acredito que, por meio do meu trabalho, consigo inspirar muitas delas a irem em busca de seus sonhos e a terem mais empoderamento dentro de suas atividades”.
A visibilidade do casal nas redes sociais, mostrando o dia a dia da fazenda, também tem influenciado muitos jovens a perceberem o agronegócio como uma atividade rentável. “Antigamente as pessoas olhavam para o trabalho no campo com aquela imagem de penosidade, havia essa mentalidade de sofrimento. Hoje nós mostramos essa nova realidade e despertamos nos jovens a visão de que é possível viver bem com o trabalho no campo”, afirma ela. “Nós mostramos isso a eles. Não é alguém que está contando uma história, é alguém que está vivendo a realidade. Eu e o meu marido somos jovens e temos qualidade de vida, vivemos tranquilos, podemos curtir a família e viajar. Isso gera outra mentalidade nos jovens”.
Para as mulheres que estão começando agora na atividade rural, Edilce aconselha estudar muito e buscar conhecer vários âmbitos da atividade na qual você está trabalhando, porque o meio rural exige muito conhecimento. “Você tem que estudar não só Agronomia e Medicina Veterinária, mas também Meteorologia e Gestão Financeira. O produtor precisa saber isso tudo para tomar decisões corretas. Muitos vão dizer que você não consegue, mas você é quem tem que acreditar no seu potencial. Você só consegue acreditar em si mesmo a partir do momento em que você consegue”, finaliza.