Após as enchentes no RS, o manejo para a recuperação do solo será fundamental
Após as enchentes no RS, produtores devem avaliar presença de nutrientes e fertilidade do solo para definir estratégias de recuperação.
Após as enchentes no RS, produtores devem avaliar presença de nutrientes e fertilidade do solo para definir estratégias de recuperação.
As enchentes no RS, provocadas pelas fortes chuvas, que atingiram grande parte do estado e causaram estragos em diversas cidades, também afetaram o agronegócio.
Segundo dados publicados no Portal do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, o setor é responsável por cerca de 40% do PIB gaúcho, com predomínio das culturas de soja, arroz, trigo e milho.
Os prejuízos vão além das perdas do que já havia sido colhido ou plantado, dos maquinários que ficaram embaixo da água e da estrutura das propriedades.
O solo também foi extremamente impactado pelas condições climáticas e a recuperação pode levar alguns anos, já que os impactos incluem a estrutura do solo e a perda de corretivos e fertilizantes.
Leia também: Rotação de culturas alia produtividade e conservação do solo
Ricardo Bahú Zottis, Agrônomo de Campo da Corteva Agriscience, esclarece que o estado gaúcho tem vários cenários diferentes em virtude do excesso de chuvas no mês de maio de acordo com cada região.
Por isso, não existe uma “receita de bolo” para a recuperação dos solos. Cada caso deve ser tratado conforme a sua particularidade. Confira um breve resumo da situação:
Serra, Vale do Caí, Rio dos Sinos, Vale do Rio Pardo e Vale do Taquari: regiões nas quais a tragédia foi devastadora, com desmoronamento de encostas, enxurradas, elevação histórica dos níveis dos rios e enchentes nunca vistas antes.
“Algumas propriedades foram devastadas não apenas por suas benfeitorias, mas também pelo solo que foi levado, restando apenas pedras, lama e um cenário de pós-guerra. Vários rios foram assoreados e tiveram seus leitos alterados em função do volume e da intensidade da água que por eles passaram. Ainda nessas regiões, atividades como horticultura, avicultura, produção de leite e suinocultura foram diretamente afetadas e levarão anos para se recuperar”, enfatiza Zottis.
Médio Uruguai, Norte, Produção, Missões, Noroeste e Campos em cima da serra: foram as regiões menos afetadas pelas enchentes, entretanto, o excesso de chuvas e a baixa luminosidade comprometeram a qualidade da soja que estava para ser colhida, assim como a implantação das culturas pós-Safra para o pastejo do gado de corte ou de leite e a pré-cobertura para as lavouras de inverno, como trigo e cevada.
Região Sul e Campanha: os maiores prejuízos das propriedades foram causados pelo alagamento em função da elevação dos rios que recebem as águas vindas das regiões de maior altitude, ocasionando perdas consideráveis nas benfeitorias, maquinários, armazéns e também nas lavouras de soja e arroz que aguardavam a colheita.
Saiba mais: Manejo de solo: dicas essenciais para um bom aproveitamento de seu principal recurso
De acordo com Edson Teramoto, gerente de certificação agrícola no Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), as fortes chuvas causam erosão, o que danifica, principalmente, as camadas superficiais, que são as que recebem a aplicação de fertilizantes e corretivos para garantir a produção.
“Em outras palavras, uma chuva pode levar embora todo o investimento que o produtor fez em adubos, e como os fertilizantes são uma parte importante do custo de produção, essa perda representa bastante dinheiro. O efeito da erosão é mais grave em áreas acentuadamente declivosas, já as mais planas, de baixada, são mais sujeitas a inundações e geralmente estão próximas aos rios”, explica.
O ideal é que o produtor faça uma avaliação do estado geral da propriedade após as inundações. Realizar uma amostragem de solo e fazer análises laboratoriais pode ajudar a avaliar os impactos nos nutrientes do solo e se a sua fertilidade foi afetada.
O especialista afirma que “nas regiões sujeitas a inundações, o produtor pode avaliar também como a altura do lençol freático será afetada ao longo do tempo em relação às mudanças climáticas que alteram o regime das chuvas”.
Edson destaca que a principal forma de proteger o solo contra a erosão é ter boas práticas de conservação. Garantir a cobertura verde com plantas, realizar o plantio ao nível e usar o sistema de plantio direto são algumas das práticas recomendadas.
“Atualmente, a agricultura regenerativa tem ganhado destaque, e esse conceito é muito interessante, pois traz a importância das práticas de conservação de solo”, observa.
Além de retirar os nutrientes presentes no solo, as enchentes e inundações podem carregar os mais variados tipos de sedimentos, detritos e até contaminantes.
“Esses serão movidos e depositados em diferentes locais quando a enchente acabar, podendo alterar as características dos solos desses locais de forma permanente, deixando-os inclusive impróprios para cultivos.
Dependendo da enchente e da enxurrada, o solo pode ter sido totalmente removido até a rocha. Nesses casos, o dano é irreversível. A terra é o principal patrimônio do produtor. Sem ela, não há produção, portanto, cuidar do solo é fundamental”, ressalta.
Leia também: Como resolver o problema de compactação dos solos com GPS?
Para Teramoto, os impactos das mudanças climáticas reforçam a necessidade de planejar o uso e a ocupação da terra a partir da avaliação da aptidão agrícola das áreas, o que inclui a análise das limitações impostas pelo ambiente, o tipo de solo, o regime climático, a geologia para uso agrícola e as correções ou mitigações possíveis.
O poder público e a iniciativa privada também devem contribuir para ajudar a superar os desafios climáticos. Teramoto acrescenta que recentemente estão sendo desenvolvidas ações, inclusive pelo Imaflora, que incluem o incentivo às práticas de agricultura regenerativa, transição para a agricultura orgânica, de baixo carbono e com ênfase nos sistemas agroflorestais.
Prejuízos causados pelas enchentes: documentos são essenciais para garantir direitos dos produtores Para garantir seus direitos, buscar apoio neste momento de crise e renegociar contratos relacionados às suas atividades agrícolas, os produtores devem reunir documentos que comprovem e quantifiquem as perdas. Confira alguns exemplos:
|