Blog •  04/04/2023

O que esperar da demanda internacional por milho?

Felipe Fabbri, zootecnista, Me. 
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Milho sendo carregado no graneleiro de navio para exportação.

Com a demanda pelo milho aquecida, principalmente pela China, o Brasil deverá ocupar o pódio como maior exportador do grão em 2023.

Produção e consumo doméstico de milho crescentes

No mercado de milho, de 2000 para cá, muita coisa mudou.

A produção na primeira safra, ou safra de verão, perdeu espaço para a soja no ano agrícola brasileiro, enquanto a produção de segunda safra, ou safrinha, virou “safrona” e passou a compor o maior volume do cereal no país (figura 1).

Figura 1. Produção de milho na 1ª e 2ª safra no Brasil, em milhões de toneladas, por ano-safra. A oferta aumentou, assim como a demanda, que seguiu firme e crescente. Nas últimas cinco safras (2017/18 a 2022/23), estima-se que o consumo de milho no mercado interno aumentou 36,3%, compondo 80 milhões de toneladas consumidas (Conab).

O setor de nutrição animal é o principal segmento consumidor no país. No entanto, além da nutrição animal, desde meados de 2016 o cereal tem servido de base à produção de etanol no país, que aumentou 473,8% desde então, com uma expectativa de produção de 4,54 bilhões de litros para a Safra 2022/23, o que equivale a uma demanda de 11,3 milhões de toneladas do cereal (figura 2).

Figura 2. Produção de etanol de milho, em bilhões de litros (eixo da esquerda), e consumo de milho, em milhões de toneladas (eixo da direita).

No mercado internacional, o milho brasileiro ganha espaço e, em 2023, deverá assumir o pódio da exportação

A demanda aumentou não só no mercado doméstico como também no mercado internacional, e ano a ano a exportação de milho brasileira tem crescido, configurando o Brasil como o segundo maior Aexportador do cereal no mundo.

Em 2022, exportamos 43,2 milhões de toneladas, recorde em nossa história. O mercado foi impulsionado, principalmente nos últimos meses de 2022, pelo início das vendas ao mercado chinês, assunto já abordado em nosso blog (Milho brasileiro e a liberação dos embarques para a China).

Para a Safra 2022/23, em função de uma série de fatores de mercado favoráveis a nosso país (quebra de produção nos Estados Unidos, União Europeia, Argentina e conflito Rússia e Ucrânia), deveremos assumir o posto de maior exportador do mundo, com estimativa de 50 milhões de toneladas embarcadas (USDA), superando os Estados Unidos (figura 3).

Figura 3. Exportação de milho do Brasil e Estados Unidos, em milhões de toneladas. 

Exportação de milho em 2023 e expectativas para o mercado nos próximos anos

Para se ter ideia, entre janeiro e fevereiro de 2023 o mercado brasileiro embarcou volume de milho superior a todo o primeiro semestre de 2022. Até o momento, 7,44 milhões de toneladas foram enviadas ao exterior, contra 6,28 milhões em todo o primeiro semestre de 2022.

Até a segunda semana de fevereiro de 2023, foram exportadas 1,26 milhão de toneladas de milho, ultrapassando as 768,4 mil toneladas embarcadas em fevereiro do ano passado.

Figura 4. Exportação de milho, em milhões de toneladas, no primeiro semestre de 2022 e entre janeiro e fevereiro* de 2023.

Desde o início das compras chinesas (nov/22), o país foi responsável por consumir 2,15 milhões de toneladas, ou 11,7%, de todo o milho exportado, ocupando a segunda posição dentre os destinos no período, ficando atrás somente do Japão. Em janeiro último, a China foi responsável por importar 983,6 mil toneladas, sendo o principal comprador do Brasil.

A China é o segundo maior produtor de milho do mundo, mas não é autossuficiente quanto ao consumo estimado para o país, importando cerca de 20 milhões de toneladas de outros países nas últimas três safras (USDA).

Seus principais fornecedores são Estados Unidos e Ucrânia. O primeiro sofreu forte quebra de produção na Safra 2022/23, enquanto a Ucrânia, em função do conflito com a Rússia, que completa um ano em fevereiro, viu sua produção – e exportação – diretamente afetada.

Em meio às adversidades vividas no mercado internacional, abre-se oportunidades ao milho brasileiro.

Por fim, a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) prevê que a produção de milho em 2030 atingirá 1,33 bilhão de toneladas, quase 128 milhões de toneladas a mais que a produção estimada para 2022.

Ao Brasil, estima-se que, até lá, 150 milhões de toneladas do grão serão produzidas (quase 10% da produção global), e a exportação brasileira poderá atingir a marca de 65 milhões de toneladas (USDA), consolidando nossa posição no mercado de milho e ampliando, cada dia mais, a importância de nossas agroindústrias e produtores no segmento.

Referências

Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)
Scot Consultoria