A intensificação no uso de máquinas e implementos para produção agrícola coloca novos desafios aos produtores, partindo da necessidade de mão de obra qualificada e assistência técnica especializada até peças e suprimentos para manutenção.
Além dos desafios técnicos, devido à maior complexidade nas operações dos conjuntos mecanizados (máquinas e implementos), outro fator de atenção é o custo financeiro.
Variáveis como tamanho das máquinas e implementos, mão de obra especializada, combustíveis e lubrificantes, depreciação etc. impactam diretamente ou indiretamente no custo operacional e, por consequência, no custo de produção da lavoura.
Entender a composição e como calcular o custo hora-máquina é fundamental para encontrar os gargalos e auxiliar na redução do custo com as operações.
O cálculo do custo hora-máquina leva em consideração os custos fixos e variáveis. Quanto maior a quantidade de dados existentes, mais preciso será o cálculo.
O custo hora-máquina (HM) é a soma do custo fixo (CF) e do custo variável (CV):
O custo fixo é independente do uso da máquina ou implemento, não variando conforme a utilização. A partir da compra, o custo fixo incide sobre os bens. Quanto mais produtivo, ou seja, quanto mais horas utilizadas durante o ano, menor será a participação dos custos fixos no custo hora-máquina.
onde:
CF = Custo fixo (R$/h);
D = Depreciação (R$/h);
J = Juros (R$/h);
AS = Alojamento e seguro (R$/h).
A depreciação nos custos fixos tem a função de garantir um fundo de reserva para compra de uma nova máquina, que exerça a mesma função no final da vida útil da que está em operação.
A desvalorização da máquina ou do implemento pode ocorrer pelo desgaste natural com o uso, proporcionando um retorno por meio da atividade desenvolvida ou da obsolescência quando parada e não utilizada.
Assim, a depreciação é estimada, pois o preço real é obtido somente no momento da venda, podendo ser calculado da seguinte forma:
onde:
D = Depreciação (R$/h);
P = Preço de aquisição (R$);
S = Preço de sucata (R$);
V = Vida útil (h).
O preço de sucata pode ser considerado como 10% do preço de aquisição. Já para vida útil, o tempo é estimado, variando de máquina e implemento.
Os juros consideram o custo de oportunidade, ou seja, caso o capital estivesse alocado em outro investimento, deveria render menos do que o imobilizado nas máquinas ou implementos.
onde:
J = Juros (R$/h);
P = Preço de aquisição (R$);
Tj = Taxa de juros anual (%);
t = Tempo de uso por ano (horas/ano).
Como referência para a taxa de juros anual, podemos utilizar a taxa Selic ou a poupança.
O cálculo para o alojamento leva em consideração o custo com o abrigo, quando a máquina ou o implemento não estiver em uso ou manutenção, protegido das intempéries climáticas. É estimado com uma porcentagem do preço inicial da máquina.
Da mesma forma, o seguro tem um custo anual para eventuais necessidades com danos imprevistos, sejam parciais ou totais.
Considera-se 1% do preço de aquisição para alojamento e 1% para o seguro.
onde:
AS = Alojamento e seguro (R$/h);
P = Preço de aquisição (R$);
t = Tempo de uso por ano (horas/ano).
O custo variável é aquele que depende da quantidade de uso da máquina ou implemento. Compreende os custos envolvidos na própria operação, manutenção e reparos.
onde:
CV = Custos variáveis (R$/h);
C = Combustíveis (R$/h);
L = Lubrificantes (R$/h);
RM = Reparos e manutenção (R$/h);
SO = Salário do operador (R$/h).
O gasto com combustíveis por máquinas movidas a combustão pode variar conforme o tamanho do motor ou a carga de trabalho.
Assim, para calcular o custo horário do combustível utilizado, utiliza-se o consumo horário e o preço do litro do combustível.
onde:
C = Combustíveis (R$/h);
Ch = Consumo horário (R$/h);
Pl = Preço do litro (R$/L).
Para os lubrificantes, a quantidade horária necessária varia de acordo com o uso e a potência do motor. No manual do fabricante, consta o tamanho do reservatório e quantas horas de trabalho são necessárias para realizar a troca.
onde:
L = Lubrificantes (R$/h);
CLub = Consumo de óleo lubrificante (L/h);
PLub = Preço do lubrificante (R$/L);
CGra = Consumo de graxa (kg/h);
PGra = Preço da graxa (R$/kg).
Estes custos referem-se à manutenção preventiva, ou seja, componentes que devem ser trocados regularmente, como filtros de ar, de óleos, de combustíveis, correias de polias etc., e com manutenção corretiva, que varia conforme a necessidade.
onde:
RM = Reparos e manutenção (R$/h);
Cr = Custo com reparos anual (R$/ano);
Cm = Custo com manutenção anual (R$/ano);
t = Tempo de uso por ano (horas/ano).
Para o cálculo do custo hora-máquina, o salário do operador, incluindo os benefícios e encargos sociais, devem ser contabilizados, considerando o tempo de uso da máquina.
onde:
SO = Salário do operador (R$/h);
As = Salário anual (R$/ano);
t = Tempo de uso por ano (horas/ano).
Considerando atualmente um trator com um período de trabalho de 1.000 horas anuais, a maior participação do custo hora-máquina é com combustível, sendo de 50,0%; em segundo lugar. é o salário do operador, com 17,0%; e em terceiro, os custos com manutenção, 12,0%.
Considerando o mesmo trator trabalhando 300 horas por ano, as maiores participações na composição do custo hora-máquina são o salário do operador, com 34,0%; o combustível, com 30,0%; e os juros, com 18,0%.
Em ambos os casos, a participação dos custos variáveis é maior que a de custos fixos. Entretanto, o custo fixo do trator com 1.000 horas trabalhadas no ano é 7,0% menor que o de 300 horas anuais. O que demonstra que, quanto mais horas trabalhadas, menor é a participação dos custos fixos.
É fundamental para a gestão de uma propriedade saber exatamente o custo operacional envolvido, em função da intensificação e da complexidade das operações.
Com os custos em mãos, é possível identificar os gargalos operacionais e melhorar a tomada de decisão para uma produção mais eficiente.
Em um cenário de margens cada vez mais apertadas, é importante que todos os processos envolvidos em uma produção agrícola sejam otimizados, garantindo ao produtor o melhor retorno possível.
SILVA, Gustavo Fedrizzi da. Análise de custos operacionais e eficiência gerencial para conjuntos trator-implemento em operações agrícolas. Piracicaba: Departamento de Engenharia Rural, 2009.
SILVA, Rouverson Pereira da; FURLANI, Carlos Eduardo Angeli; VOLTARELLI, Murilo Aparecido; TAVARES, Tiago de Oliveira. Custo horário de máquinas agrícolas. Jaboticabal: Laboratório de Máquinas e Mecanização Agrícola, 2015.