O clima e a quebra de safra marcam a safra de verão 2021/22 brasileira
A safra brasileira de grãos 2020/21 foi marcada pelo clima.
Impactadas pelas chuvas aquém do ideal, a semeadura e colheita de soja atrasaram, estreitando a janela para plantio do milho de segunda safra. Em meio a esse cenário, com forte estiagem e déficit hídrico no desenvolvimento das lavouras de segunda safra no país, a produção sofreu forte quebra.
Findada a safra 2020/21, marcada pelo clima, a temporada 2021/22 começou com expectativas positivas. A semeadura da safra de verão trabalhou em bom ritmo entre setembro e outubro nas principais regiões produtoras. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), até outubro, estimava uma safra recorde para o país, mas novamente o clima pesou.
Sob efeitos climáticos do fenômeno La Niña, a expectativa positiva para a produção, não só no Brasil, mas na América do Sul, tornou-se um ponto de atenção e incertezas, com revisões para baixo da produção.
Os preços do milho dispararam no mercado brasileiro em 2020 e 2021, e as expectativas iniciais apontavam para patamares ainda elevados em 2022, porém mais acomodados.
A safra de milho de verão 2021/22, inicialmente estimada em 28,3 milhões de toneladas, sofreu com o clima, e as expectativas iniciais foram reduzidas em 12,4% até junho, estimada atualmente em 24,8 milhões.
A cultura, em fase de colheita no país, perdeu produtividade, puxada pelas lavouras do Sul, região responsável por cerca de 35,0% da produção de primeira safra nacional.
No Paraná e no Rio Grande do Sul, a expectativa inicial apontava para produtividades, respectivamente, 16,0% e 30,5% maiores frente à safra 2020/21. Em junho, nessa mesma ordem, as produtividades estimadas são 17,5% e 33,9% menores que na safra passada.
Segundo levantamento da Scot Consultoria, na região de Campinas-SP, a referência em meio à quebra de safra chegou a R$ 101,50 por saca de 60 quilos (25/3/22), perdendo a força com o câmbio e avanço da colheita, sendo negociada em junho a R$ 88,00 por saca (9/6/22).
Apesar da quebra de produção na primeira safra, as expectativas seguem positivas para a segunda safra, em reta final de semeadura, com projeção estimada em 86,1 milhões de toneladas, expectativa 0,3% menor que o projetado inicialmente.
Para a produção total brasileira, 115,2 milhões de toneladas estão estimadas, produção 0,9% abaixo das estimativas primárias. Veja na figura 1 a estimativa inicial e em junho/22 para as produções na primeira safra, segunda safra e produção total.
Figura 1. Expectativas iniciais (outubro/21) e atuais (junho/22) para a produção de milho, em milhões de toneladas.
Fonte: Conab / Elaboração: Scot Consultoria
O clima também pesou sobre o desenvolvimento da cultura no Brasil. A safra brasileira 2021/22 foi estimada inicialmente em 140,7 milhões de toneladas, 2,5% acima da safra 2020/21 ̶ foi um recorde, e passou, mês a mês, por revisões para baixo pela Conab.
Em junho/22, praticamente findada a colheita, estima-se produção de 124,3 milhões de toneladas, 13,9 milhões abaixo da safra 2020/21 e 16,4 milhões de toneladas abaixo das expectativas iniciais para a safra 2021/22 no país, divulgadas em outubro 2021. Destaques para Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, cujas produtividades das lavouras foram severamente impactadas, veja na figura 2.
Figura 2. Variação das produtividades estaduais atualmente frente às estimativas iniciais.
Fonte: Conab / Elaboração: Scot Consultoria
Além do nosso mercado, Argentina e Paraguai também foram severamente afetados. Com produções severamente afetadas pelo clima, o cenário de menor produção na América do Sul deu firmeza às cotações.
Em Paranaguá-PR, a saca de soja de 60 quilos está cotada em R$195,00 (9/6), incremento de 13,4% no acumulado do ano. Cabe a ressalva que os preços da oleaginosa estão mais frouxos atualmente, puxados pela queda do dólar e avanço da safra, tendo em vista que, em outros períodos de safra, negócios a R$209,00/saca foram registrados.
Além do clima e quebra de safra, o câmbio e a demanda externa firmes também colaboraram com o cenário de sustentação dos preços.
Dessa forma, a expectativa é de mercado firme para a soja e o milho, com manutenção dos atuais patamares de preços no mercado brasileiro.
Felipe de Lima Junqueira Franco Fabbri, zootecnista, me.
Scot Consultoria