Com oito anos de idade você provavelmente ainda não tinha ideia de qual área profissional iria seguir. A dra. Mariangela Hungria também não tinha, mas rapidamente entendeu que o livro “Caçadores de Micróbios”, do autor Paul de Kruif, que ganhou de presente da avó, sua maior incentivadora, poderia ser o começo de um futuro cheio de possibilidades.
O que impediria então aquela menina de trabalhar por um mundo melhor, aliando a natureza, pela qual sempre foi apaixonada, com a ciência?
“Pensei em desistir várias vezes, porque, na época, a agronomia era considerada uma profissão de homem. Tinha muito preconceito”, conta Mariangela. Mas segundo ela, no último ano da faculdade, já sabia que queria seguir essa área de pesquisa, de microbiologia, de trabalhar com os microrganismos e ajudar na sustentabilidade. “E isso, há 40 anos, era pior do que o próprio fato de você ser mulher”, complementa ela, que superou as barreiras do improvável e hoje está entre as cientistas mais influentes do mundo e é uma das “100 Mulheres mais Poderosas do Agro”, de acordo com a lista da Revista Forbes (2021), divulgada para o Dia Internacional da Mulher Rural.
Mariangela Hungria é engenheira agrônoma, pesquisadora e professora doutora da Universidade Estadual de Londrina, no Paraná. Foi mãe solo de duas meninas, sofreu com a dupla jornada de trabalho doméstico e trabalho como fonte de renda, sentiu na pele a sobrecarga de cuidar de casa, filhas, focar nos estudos para o mestrado e doutorado, entre tantos outros obstáculos. “Eu pensava assim: não quero ficar rica, mas tenho que pagar as contas, ao mesmo tempo, preciso ser feliz comigo mesma fazendo aquilo que acredito e, por mais que as pessoas falassem que ia ser um fracasso, eu corria atrás, então, o bem vai vencer e eu vou chegar lá”, relembra a pesquisadora.
Mariangela não só chegou lá, como virou exemplo e, com sua vasta experiência, ajuda inúmeras mulheres que vivem no campo e colaboram com o agronegócio a partir da ciência. Aliar a pesquisa básica com a pesquisa aplicada, investir em inovação e tecnologia são alguns dos meios para se entender melhor a agricultura do futuro, que tem como pilar principal produzir mais com menos. De acordo com a pesquisadora, é preciso ter uma visão do todo e as mulheres rurais têm uma percepção maior disso em relação aos homens. “Eu acho que a mulher tem um papel extremamente importante na agricultura do futuro, porque tem mais visão desse todo que a gente precisa. Elas se saem melhor, têm mais paciência e a perseverança necessária para conduzir uma pesquisa de qualidade, por exemplo”.
Segundo dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, cerca de 15 milhões de mulheres vivem e trabalham na área rural, o que representa 47,5% da população residente no campo no Brasil. É importante ressaltar que as mulheres rurais são figuras extremamente relevantes na busca diária de soluções, no que diz respeito à produção de alimentos, educação e gestão de recursos. A dra. Mariangela Cunha explica que a mulher tem como instinto natural querer alimentar, deixar um mundo melhor para filhos e netos, consequentemente, um maior cuidado em produzir. A mulher quer ir além, deixar um legado para as gerações futuras.
Foto: Brevant® Sementes.
E como o mercado no agronegócio vem se abrindo cada vez mais para o mundo feminino, a dra. aconselha: “Uma coisa que sempre falo para minhas alunas é que, mesmo com as portas se abrindo, não podemos deixar nossos sonhos de lado. Por exemplo, quer ser mãe... seja, quer ter filhos... tenha. Quer viajar para o exterior para se capacitar ou só passear, vá. Não podemos esperar a melhor hora, a melhor oportunidade é agora”, conclui.
Implantado pela ONU – Organização das Nações Unidas, em 1995, tem a proposta de elevar a consciência mundial sobre o papel da mulher no campo. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), as mulheres constituem 40% da mão de obra agrícola nos países em desenvolvimento.