São diversos os fatores que influenciam no clima global, principalmente a interação entre a superfície do oceano e a atmosfera, tais como temperatura do mar, pressão atmosférica e incidência de raios solares.
A resultante de uma dessas interações são as movimentações na Circulação Zonal, os eventos El Niño e La Niña. Esses eventos ocorrem pela mudança de temperatura das águas do oceano Pacífico, na região Niño 3.4, que compreende a faixa entre 120°W e 170°W no globo (área circulada em vermelho na figura 1).
Figura 1. Anomalia da temperatura da superfície do mar, em graus Celsius. Referência jul/22.
Fonte: INPE/CPTEC
O aquecimento das águas oceânicas, característica do El Niño, propicia a ocorrência de chuvas no Sul do Brasil e, ao mesmo tempo, a diminuição da precipitação no Norte e Nordeste, além do aumento da temperatura média no país.
Contrário ao El Niño, temos o fenômeno denominado La Niña, caracterizado pelo resfriamento das águas do oceano Pacífico. No Brasil, acarreta na redução das chuvas no Sul e aumento no Norte e Nordeste. Além disso, a precipitação apresenta alta variação na frequência e no volume, ou seja, ora chove torrencialmente, ora está seco.
A ocorrência dos fenômenos se alternam, durando, em média, dois anos, podendo durar até sete, sendo seguido pelo fenômeno contrário. Confira o comportamento histórico das anomalias de temperatura do oceano Pacífico (região Niño 3.4) na figura 2.
Figura 2. Série histórica de anomalias de temperatura da região Niño 3.4, em graus Celsius
Fonte: IRI
Com a evolução da tecnologia, atualmente é possível realizar um acompanhamento mais acurado da temperatura dos oceanos. Com isso, é possível prever quais e quando serão os impactos dessas movimentações.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa Internacional da Universidade de Clima da Columbia (IRI), os próximos meses continuarão tendo influência direta do resfriamento das águas, até o trimestre dezembro/22, janeiro/23 e fevereiro/23, em que a ocorrência deverá diminuir para 60%.
Figura 3. Probabilidade de ocorrência de La Niña e El Niño. Referência: início de agosto.
Fonte: IRI
Ou seja, pelo terceiro ano consecutivo, as previsões climáticas apontam para a presença do fenômeno climático La Niña.
Vimos na safra 2020/21 o clima influenciando negativamente na janela de plantio das culturas de verão, devido aos veranicos nas principais regiões produtoras, impactando diretamente na janela de semeadura da segunda safra.
Na safra seguinte (2021/22), com a seca intensa sofrida na região Centro-Sul do Brasil, houve quebra de safra das culturas de soja e milho.
Com isso, a safra 2022/23 brasileira será, mais uma vez, regida pelo “mercado de clima”, em que as condições climáticas terão papel fundamental no desenvolvimento das culturas e, consequentemente, em sua precificação.
INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
IRI - Instituto Internacional de Pesquisa da Universidade da Columbia (sigla em inglês).