Blog •  10/11/2022

Armazenamento de grãos: cuidados essenciais e capacidade de uso

Felipe Fabbri, zootecnista, me. 
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Sistema de armazenamento em silos verticais em uma unidade produtora. Sistema de armazenamento em silos verticais em uma unidade produtora. 

Na Safra 2021/22, a produção total de grãos deverá atingir 272,5 milhões de toneladas, sendo a soja e o milho os responsáveis por aproximadamente 90% desse montante. A produção brasileira cresce safra após safra. Acompanhe na figura 1.

Figura 1. Produção brasileira de grãos (total) por safra, em milhões de toneladas.

*estimativa
Fonte: Conab/Elaboração: Scot Consultoria

Nem toda a produção é vendida antecipadamente ou consumida durante a colheita. O armazenamento do produto torna-se essencial e, ano a ano, é crescente, porém não tem acompanhado o ritmo do incremento na produção.

Desde 2010, a produção brasileira de grãos cresceu 82,6%. Nesse período, a capacidade de armazenamento nacional aumentou apenas 32,1%, estimada em 178,2 milhões de toneladas na Safra 2021/22. Veja na figura 2.

Figura 2. Produção brasileira de grãos (em azul) e capacidade de armazenamento (em vermelho) por safra, em milhões de toneladas.

*estimativa
Fonte: Conab/Estimativa: Scot Consultoria

Assim, aumentar a capacidade de armazenamento e, mais importante ainda, conhecer os tipos de armazenamento e boas práticas envolvidas, é fundamental.

No Brasil, segundo o Boletim Logístico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado em 2021, só 14% das fazendas têm armazéns ou silos; no Canadá, são 85%; nos Estados Unidos, 65%; e na Argentina, 40%.

Pensando na perspectiva de aumento na produção nacional e incremento na capacidade de armazenagem no país, o produtor deve levar em consideração alguns pontos principais de atenção, que descreveremos a seguir.

Conhecer os fatores que afetam a qualidade dos grãos armazenados 

O organismo mais importante ao considerarmos grãos armazenados é o próprio grão, que, apesar de temporariamente em estágio de dormência, tem todas as propriedades de um organismo vivo.

Assim, é fundamental entendermos alguns aspectos básicos relacionados ao grão e ao seu armazenamento. Alguns desses aspectos são o teor de água nos grãos armazenados e o seu impacto, a interferência da temperatura na qualidade dos grãos armazenados, características da massa de grãos, principais perdas que ocorrem na armazenagem e os sinais de alerta e danos nos grãos.

Os processos de seleção, pré-limpeza e secagem são os primeiros passos fundamentais para o armazenamento dos grãos. Realizada a seleção e pré-limpeza dos grãos, estes deverão passar por uma secagem, uma vez que o teor de água é um fator determinante no controle de perdas dos grãos armazenados.

Se a umidade for mantida a níveis baixos, os demais fatores prejudiciais serão facilmente controlados. Na tabela 1, são apresentados os teores de água de alguns grãos em relação à colheita e ao armazenamento.

Tabela 1. Percentual de umidade de alguns grãos em relação à colheita e ao armazenamento.

Fonte: CNA/Elaboração: Scot Consultoria.

Determinar o ponto de colheita dos grãos

Para determinar o ponto de colheita, é necessário quantificar sua umidade nas condições de campo. O resultado dessa análise indicará se os grãos estão prontos para serem colhidos e se necessitarão ou não de redução da umidade com secagem artificial para armazenamento.

Os teores de água recomendados para a colheita manual dos grãos são variados, mas, para a maioria deles, como arroz e milho, os teores variam entre 18 e 22%, e, para a soja, 16 a 18%.

Para determinação do nível de umidade, uma amostra de grãos na lavoura deverá ser obtida. O ideal para a composição amostral é que a área seja dividida em diferentes talhões e que, após essa separação, seja realizada a amostragem em zigue-zague no terreno.

Selecionada a amostra, o material deverá ser pesado e levado a um secador, para se determinar o teor de umidade.

Secar os grãos

A secagem dos grãos pode ser feita naturalmente no terreiro ou artificialmente em secadores. É essencial conhecer as características técnicas dos diferentes tipos de secadores.

A importância da secagem de grãos aumenta à medida que cresce a produção, em função de algumas vantagens:

  • permite antecipar a colheita, disponibilizando a área para novos cultivos;
  • diminui a perda do produto no campo;
  • permite armazenagem por períodos prolongados, com menor risco de deterioração;
  • o poder germinativo de sementes é mantido por longos períodos; 
  • impede o desenvolvimento de microrganismos e insetos.

Escolher o sistema de armazenamento e a unidade armazenadora

Em algumas regiões, dependendo da área plantada e da mão de obra disponível, a colheita é realizada em diferentes dias, misturando-se produtos com diferentes características.

A escolha do sistema e da unidade armazenadora deve estar de acordo com o volume a ser armazenado e o produtor precisa dispor dos recursos financeiros para a construção, aquisição de equipamentos e operacionalização da estrutura de armazenagem.

Os principais aspectos que devem ser observados para escolher a unidade armazenadora são o custo de instalação e operação, o tipo de produto a ser armazenado, a finalidade a que se destina a unidade, os fatores técnicos e operacionais e a localização.

Existem vários tipos de sistemas de armazenamento, utilizados de acordo com o produto a ser armazenado e a área disponível, sendo os sistemas mais usados o paiol, o armazém graneleiro, o silo metálico, o silo em concreto, o silo-bolsa ou silo-bag e o armazém convencional para sacarias.

Preparar as unidades armazenadoras e cuidados com os insetos-praga

Definido e instalado o sistema de armazenamento na propriedade, alguns aspectos são fundamentais para a manutenção das unidades armazenadoras, além de cuidados relacionados aos insetos-praga.

O local e a unidade de armazenagem, o tipo de piso, as vantagens e desvantagens do material da construção e a limpeza do ambiente externo da unidade para evitar contaminação nos ambientes externos e internos são cuidados básicos no preparo das unidades armazenadoras.

Além disso, é imprescindível conhecer os insetos que atacam os grãos durante a armazenagem, que podem ser classificados em pragas primárias e pragas secundárias.

Define-se como pragas primárias as que atacam e infestam grãos não danificados e também se alimentam dos danificados, podendo a maioria delas iniciar sua infestação e ataque no campo, antes da colheita.

Já as pragas secundárias são aquelas que atacam o interior de grãos danificados ou já atacados.

Alguns fatores colaboram para o ataque de insetos-praga, como a temperatura elevada (25-34°C) e a umidade relativa do ar superior a 70%.

Além disso, o teor de umidade do grão armazenado também pode ser um risco para o ataque das pragas, sendo também um importante fator para evitar a infestação na massa de grãos.

Algumas das principais pragas de grãos armazenadas são o gorgulho/caruncho-de-grãos (Sitophilus spp.), a broca-dos-cereais (Prostephanus truncatus), o besouro-dos-cereais (Rhyzopertha dominica) e a traça-dos-cereais (Sitotroga cerealella).

O manejo integrado de pragas (MIP) também pode ser aplicado a grãos armazenados. Para mais informações sobre o MIP, acesse.

Considerações finais

O armazenamento de grãos é um método eficaz para a venda de um produto fora da sua estação de cultivo e uma possibilidade de maiores retornos ao produtor rural.

As boas práticas relacionadas ao armazenamento são essenciais para manter a qualidade e quantidade do produto e tais procedimentos devem estar presentes em todas as etapas da operação.

Referências

Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)

Scot Consultoria
Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR

Felipe de Lima Junqueira Franco Fabbri, zootecnista, me.

Scot Consultoria