Segundo a Conab, o Brasil produziu 154,5 milhões de toneladas de soja na Safra 2022/23, crescimento de 23,1% frente às 125,5 milhões de toneladas produzidas em 2021/22.
Com o aumento da produção no Brasil e um quadro de oferta e demanda internacional menos negativo, os preços da oleaginosa sofreram forte queda na Safra 2022/23, temporada marcada pelo maior custo de produção da história para o sojicultor (tabela 1).
Tabela 1. Preços da soja e estimativa do custo total de produção, por ano-safra
Ano-safra – junho do ano inicial a julho do ano seguinte
¹ Média considerando as quatro regiões apresentadas
Fonte: Scot Consultoria / Conab
O retorno ao produtor, em meio ao cenário apresentado, foi apertado, e aquele que não negociou antecipadamente sua produção viu o mercado da soja físico derreter em meio à colheita da oleaginosa, com um quadro de boa oferta, prêmios à exportação negativos e dólar menor, assuntos já abordados previamente por aqui.
A Safra 2022/23 está consolidada e os resultados foram apertados ou inexistentes, com o aumento no custo de produção.
O produtor brasileiro, hoje, prepara a semeadura da Safra 2023/24, já em andamento no Hemisfério Norte e que tem aberto oportunidades, seja em função da expectativa de custos de produção menores ou pelas movimentações vivenciadas na Bolsa de Chicago (CBOT), em função da perspectiva de queda na produção norte-americana.
Situação da Safra 2023/24 e reflexo nos preços
O mercado da soja, desde junho deste ano, tem acompanhado a safra norte-americana. A semeadura da Safra 2023/24 no país ocorreu dentro da janela ideal e com ritmo acelerado.
Desde o início dos trabalhos de campo, aguardava-se, para a cultura, menor área semeada na safra 2023/24 ante a safra 2022/23 no país, o que já levava à expectativa de uma produção parelha à da última safra, pautada na recuperação da produtividade das lavouras de soja.
A recuperação, porém, não deverá ocorrer. O clima passou a pesar no país, com a falta de chuvas e temperaturas elevadas no Grain Belt norte-americano, e boa parte das lavouras passaram a conviver com a seca na Safra 2023/24.
Com o quadro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), que até julho/23 manteve as estimativas para a produção local, reduziu, em agosto/23, a produtividade e produção local.
A produção norte-americana em 2023/24 ficou estimada em 114,5 milhões de toneladas, 2,1% menor frente às expectativas de julho/23 para a temporada e 1,6% menor que no último ano-safra.
A Pro Farm Crop Tour, iniciativa privada que anualmente pondera a estimativa quanto à safra norte-americana e tem peso com relação ao mercado local, estimou dados de produção abaixo dos apresentados pelo USDA, uma produção local de cerca de 111,8 milhões de toneladas.
Tabela 2. Estimativa para a produção de soja na Safra 2023/24 para os principais países produtores
Fonte: USDA
Para a Argentina, que sofreu forte quebra de produção em 2022/23, a expectativa é de recuperação da produção na Safra 2023/24. Já para o Brasil, após produção recorde em 2022/23, a produção deverá seguir crescente.
O cenário da safra norte-americana 2023/24 levou a um aumento nos preços da oleaginosa na Bolsa de Chicago, colaborando com uma retomada momentânea de preços no Brasil entre julho e agosto, junto a um dólar mais próximo aos R$5,00.
Mas, se a produção global deverá crescer na próxima temporada e o Brasil deverá produzir mais, o que aguarda o produtor brasileiro em relação aos resultados da sua atividade no próximo ano-safra?
Demanda de soja segue firme
A perspectiva vigente (ago/23) é de que o consumo global de soja em 2023/24 crescerá 5,7% em relação à Safra 2022/23. Já a exportação brasileira aumentará 2,7%. Acompanhe na figura 1.
Figura 1. Consumo global de soja em grão (eixo da esquerda) e exportação brasileira de soja (eixo da direita), em milhões de toneladas.
* Expectativa
Fonte: USDA
Para o mercado interno, a perspectiva é de que o consumo de soja aumente 5,1%, pautado no crescimento da exportação do farelo e do óleo de soja brasileiros e também no maior consumo dos derivados no país, com destaque à perspectiva de aumento do teor de biodiesel no diesel, que passou de B10 para B12 em 2023 e, até 2024, deverá chegar a 15%, com incrementos de 1,0 ponto percentual por ano.
Do lado da demanda, são boas as perspectivas.
Custos de produção menores para a Safra 2023/24
O primeiro ponto que o produtor deve ter em sua mente é que os custos de produção para o próximo ano-safra 2023/24 serão menores.
Após forte disparada entre 2020 e 2022, em função da pandemia de covid-19, alta do dólar, gargalos logísticos e do conflito entre Rússia e Ucrânia, os preços dos fertilizantes caíram, em média, 33,5% em 2023.
Queda ao ponto de que a relação de troca, medida entre sacas de soja por tonelada do insumo, está melhor do que há um ano para determinados grupos, mesmo com a queda no preço da soja e o aumento da demanda por fertilizantes dando sustentação às cotações ao longo de agosto.
Figura 2. Relação de troca: sacas de soja por tonelada de fertilizantes, em Mato Grosso
Fonte: Scot Consultoria
O mesmo aconteceu com outros grupos que compõem os custos de produção (diesel, defensivos etc.). A estimativa, para o ano-safra 2023/24, é de que o custo seja até 10,0% menor em relação à safra anterior.
Dentre os custos de produção da atividade, o Custo Operacional Efetivo (COE), que se refere a todos os gastos assumidos pela propriedade (ou empreendimento) ao longo de um ciclo produtivo ou período analisado e que serão feitos neste mesmo intervalo de tempo, é o mais importante ao analisarmos a operação agrícola.
Os fertilizantes e defensivos agrícolas são os principais custos de produção do sojicultor (56,7%). Na sequência, vem a aquisição da semente (13,5%) e outros custos de menor proporção, que juntos somam 24,8% (figura 3).
Figura 3. Distribuição dos principais componentes do custo operacional efetivo (COE) da produção de soja
Fonte: IMEA / Scot Consultoria
O manejo do solo é prática fundamental em toda atividade agrícola. O diferencial para aumentos na produtividade das lavouras estará na escolha de uma boa semente. Com custos relacionados aos principais insumos (fertilizantes e defensivos) em queda, o investimento em sementes de melhor desempenho será outro diferencial no próximo ano-safra.
Estimativas de resultados ao produtor
A seguir, apresentamos as estimativas de resultados econômicos para a soja (safra de verão ou primeira safra) em diferentes praças para 2023/24 e um comparativo com safras anteriores.
Para termos a estimativa de resultado nas últimas safras, consideramos a produtividade média estadual, segundo a Conab, e apresentamos dois cenários.
Consideramos os preços no período de colheita (janeiro a julho), quando há maior oferta no país e necessidade de venda pelos produtores.
Para a Safra 2023/24, levamos em consideração a perspectiva de redução no custo de produção apresentada acima (10,0%) e, com relação aos preços da soja, trabalhamos com os preços para o período da safra e também a produtividade em 2022/23. Veja os resultados estimados na tabela 3.
Tabela 3. Estimativas de resultado econômico (R$/hectare) para a soja em diferentes praças e as projeções para a Safra 2023/24
Fonte: Scot Consultoria / Conab
Apesar da queda nos preços da commodity frente às últimas temporadas, a queda nos custos de produção e a antecipação da venda podem garantir bons resultados no ciclo atual.
Ao produtor, ter os custos na ponta do lápis e aproveitar os bons momentos para a comercialização será fundamental, em meio aos desafios esperados para a Safra 2023/24.
Além disso, garantir uma boa produtividade em meio aos desafios do clima, como o estresse hídrico, também poderá colaborar com melhores resultados.
É importante atentar-se ao clima. A próxima safra, já confirmada e comentada por aqui, será marcada pelo fenômeno El Niño.
Garantir boas produtividades é passo essencial para os melhores resultados e, com a possibilidade de alterações no perfil de precipitação ao redor do Brasil, entender qual a melhor cultivar para a minha região irá trazer melhor resultado.
Produtividade será palavra de ordem para a próxima safra.
Referências
Conab
IMEA
Scot Consultoria
USDA