Como lidar com a volatilidade do mercado da soja
Produtor deve ficar atento ao cenário político e econômico global e aos fatores climáticos para definir suas estratégias
Produtor deve ficar atento ao cenário político e econômico global e aos fatores climáticos para definir suas estratégias
A volatilidade do mercado da soja é um fator que pode dificultar a tomada de decisão dos produtores sobre o que fazer com a colheita e quais os seus próximos passos dentro do agronegócio. E o cenário atual reforça a necessidade de o produtor estar bem informado para definir suas estratégias.
Segundo o relatório Trimestral de Perspectivas 2023 – julho a setembro, elaborado pela StoneX Brasil Inteligência de Mercado, o primeiro semestre do ano foi marcado por commodities com preços baixos por conta de fatores como a desinflação dos bancos centrais ao redor do mundo, a perspectiva de uma demanda global menor em virtude das taxas de juros mais elevadas e a recuperação da economia chinesa abaixo do esperado. O clima também teve destaque nos últimos meses por causa da transição do período regido pelo La Niña para um período de El Niño, que causa secas e chuvas acima do normal, além da elevação das temperaturas globais.
Apesar dos desafios do cenário global, a expectativa para a colheita de soja no Brasil este ano é muito positiva. De acordo com a StoneX, o Brasil teve uma colheita recorde, de 157,7 milhões de toneladas, o que compensou a quebra da safra argentina, que recuou 60% em relação ao que era esperado, e favoreceu a produção brasileira. Já os fatores climáticos nos Estados Unidos reforçaram as estimativas de uma safra mais robusta.
Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), considerado uma das fontes mais seguras de informação sobre o agronegócio, a produção mundial de soja na Safra 2023/24 deve superar o consumo em mais de 20 milhões de toneladas. Entretanto, como a safra está no começo, as perspectivas podem mudar de acordo com as mudanças climáticas.
Com tantas possibilidades de mudanças no contexto da produção de soja e inúmeras fontes de informação, o produtor pode ter dificuldade para analisar o cenário e definir o que fazer com a sua produção e quais decisões tomar sobre as próximas safras. David da Silva Pacheco, engenheiro agrônomo e consultor em Gerenciamento de Risco da StoneX, ressalta que lidar com a volatilidade desse mercado exige que o produtor acompanhe não apenas o mercado local, mas principalmente as tendências globais, o cenário de oferta e demanda e as questões climáticas.
“Hoje, o foco está no cenário climático dos EUA, pois condições adversas do clima podem afetar diretamente a produção. Com a redução da área de soja norte-americana anunciada pela USDA, o mercado respondeu precificando uma possível redução da produção dos EUA, estimada em 117 milhões de toneladas, o que afeta a oferta global de soja. O mercado trabalha muito com a relação entre a expectativa e a realidade”, explica.
O especialista orienta os produtores a aproveitarem os momentos de volatilidade, quando o mercado está precificando a expectativa para pensar na fixação de uma safra nova, ou seja, a Safra 2023/24. “Quando a safra dos EUA é definida em setembro, por exemplo, o mercado já estará olhando para a produção da América do Sul, que começa a ser plantada. A expectativa atual é uma safra brasileira de 163 milhões de toneladas, uma safra argentina de 48 milhões de toneladas e uma safra paraguaia de 10 milhões de toneladas. Esse é o momento de pensar na gestão de risco da produção”, ressalta.
O agrônomo observa que o produtor deve monitorar regularmente os indicadores do mercado da soja para lidar com a volatilidade de todo o cenário. Relatórios de oferta e demanda, estoques de passagem e as importações e exportações de cada país – especialmente da China, que consome aproximadamente 60% de toda a soja mundial e é o principal país importador – são extremamente importantes. “Uma possível redução da demanda chinesa já afeta o mercado.
A situação dos estoques de passagem também, pois os portos brasileiros não têm capacidade logística para exportar a supersafra brasileira de soja e a safrinha de milho gigante que está entrando, de cerca de 105,2 milhões de toneladas. Uma das duas culturas pode acabar sendo penalizada, principalmente em cima de prêmio, e devemos lembrar que o preço da soja em (R$/sc) é formado pela bolsa de Chicago, o câmbio do dólar e o prêmio (apetite da demanda). Como a China sabe que existe uma produção confortável para a sua demanda e que não temos capacidade estática de armazenamento suficiente no Brasil, ela não precisa fazer esforço em cima do prêmio para comprar o produto, salvo que, de fato, os EUA tenham uma quebra significativa na safra atual e, aí sim, o mercado colocaria uma pressão em cima da próxima safra sul-americana, o que, por sua vez, mudaria os fundamentos de mercado atuais”, esclarece.
O produtor ainda deve ficar atento aos fatores econômicos e políticos globais, como guerras, que afetam os preços de insumos e commodities, e atritos geopolíticos, que podem modificar o contexto da precificação futura. Por isso, David reforça que é essencial estabelecer uma estratégia de gestão de risco, considerar diversificar a produção, ou seja, não apostar todas as fichas em apenas uma cultura, e dividir a comercialização da produção, sem tentar vender tudo em apenas um momento. Com uma boa gestão econômica e financeira, o produtor consegue ter o custo de produção em suas mãos e pode focar na margem de lucratividade, e não se ancorar apenas no preço.
Como o mercado é muito volátil, é importante focar em formar um preço médio de venda e pensar em travar o custo de produção. “Eu recomendo fatiar a produção para ir vendendo aos poucos e, assim, formar um preço médio de venda. Se a soja tem uma elevação no preço, o produtor vende uma fatia da produção; quando reduz, ele pode aguardar um pouco e sentir o comportamento do mercado. Se reduzir demais, vende mais um pouco. E ele deve, também, estar preparado ao longo do tempo para ajustar essas decisões conforme surgem novas tendências de mercado”, recomenda.
Para ficar bem informado, o produtor deve priorizar fontes de informação confiáveis, especialmente pela alta quantidade de informações divulgadas sobre o mercado da soja e o agronegócio de uma forma geral. David recomenda acompanhar fontes reconhecidas e especializadas no setor agrícola, como a USDA. Como os relatórios são divulgados em inglês, alguns institutos de pesquisa fazem a tradução. Além disso, consultorias agrícolas, como a StoneX, disseminam informações sólidas e com números confiáveis sobre o mercado.
Os produtores ainda podem usar aplicativos e plataformas digitais, desde que saibam de onde é a fonte de informação. “O produtor deve saber interpretar e encaixar a informação para a sua realidade, pois ele precisa entender como ela pode impactar o mercado local, como ele irá adaptar sua estratégia de comercialização e como irá ajustar suas decisões conforme surgem novos dados”, conclui.