Resistência à escassez hídrica, versatilidade e alta produtividade são algumas características do sorgo
Cultivado há milhares de anos, o sorgo é um grão que tem origem africana e, na botânica, pertence à mesma família do milho. Suas principais características são a fácil adaptação, resistência à escassez hídrica e alta produtividade.
É o quinto cereal mais produzido no mundo e sua produção vem crescendo na preferência dos agricultores nos últimos anos, especialmente como opção para a segunda Safra.
No Brasil, o plantio de sorgo começou a se expandir na década de 70 e, hoje, o país é um dos principais produtores do grão. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o cultivo do sorgo na Safra de Grãos de 2021/22 cresceu 19,4%.
O sorgo tem grande importância na agropecuária brasileira por ser utilizado na alimentação dos animais como fonte de energia e proteínas. Pode, ainda, servir de matéria-prima para a produção de vassouras e artesanatos. Estudos recentes mostram que o sorgo também traz benefícios para a nutrição e saúde humana.
Conheça algumas das variedades de sorgo plantadas no mundo:
Sorgo granífero: seu produto principal é o grão. Tem corte mais baixo e produz uma silagem de maior qualidade. É o tipo de sorgo mais plantado no Brasil.
Sorgo forrageiro: é usado principalmente na formação de pastos, como complemento alimentar para o gado, fenação e cobertura morta no plantio direto. Tem porte alto, muitas folhas, panículas abertas, com poucas sementes e elevada produção de forragem.
Sorgo sacarino: conhecido pelo porte alto e por ser doce e suculento como a cana-de-açúcar, é utilizado na produção de silagem ou na produção de açúcar, álcool ou etanol.
Sorgo vassoura: é usado exclusivamente na fabricação de vassouras. Suas fibras longas produzem vassouras resistentes e duráveis.
Um tipo ainda em estudo no Brasil é o sorgo biomassa, destinado à geração de energia sustentável. Além de ter um alto potencial produtivo, ele cresce muito rápido, atingindo até seis metros em apenas 180 dias.
Segundo a Embrapa, chega a produzir 150 toneladas de matéria fresca por hectare. É vigoroso, resistente a pragas e a doenças. Pode ser usado em usinas termelétricas ou em indústrias que geram energia para consumo próprio.
Por ter uma janela de semeadura maior, o sorgo é uma excelente opção para quem busca rentabilidade com grãos na segunda Safra. Sua alta tolerância ao estresse hídrico faz com que ele seja bastante utilizado no plantio da Safrinha, especialmente nas regiões de clima mais seco.
O sorgo tem um ciclo de vida entre 90 a 120 dias, podendo variar de acordo com a cultivar, local de plantio, clima e outros fatores externos.
Assim como em outras culturas, é preciso investir no preparo do solo e estabelecer um planejamento para o controle de plantas daninhas. Para aumentar a produtividade das lavouras de sorgo, o agricultor deve evitar o plantio em áreas com histórico de pragas e doenças e utilizar somente sementes de qualidade comprovada.
O sorgo é suscetível a várias doenças que podem prejudicar sua produtividade, dependendo das condições ambientais e da qualidade da cultivar. A lavoura pode ser atacada por doenças foliares, do colmo, da panícula, além de fungos de solo causadores de podridões radiculares.
No Brasil, as principais doenças que afetam a cultura do sorgo são:
Antracnose (Colletotrichum sublineolum): é considerada a doença mais importante da cultura do sorgo no Brasil pelas perdas ocasionadas na produção de grãos e forragens.
Helmintosporiose (Exserohilum turcicum): causa uma queima foliar que reduz a qualidade de forragem e predispõe as plantas à podridão de colmo. Está presente em quase todas as regiões do Brasil, sendo mais crítica no Centro-Oeste e no Sudeste.
Ferrugem do Sorgo (Puccinia purpurea): tem maior incidência em regiões de temperaturas amenas e elevada umidade, como algumas áreas da região Sudeste. Sua ocorrência é mais severa após o florescimento, mas também pode afetar plantas jovens.
Macrophomina (Macrophomina phaseolina): presente nos plantios de sorgo de Safrinha na região Central e em áreas do Nordeste, principalmente quando o enchimento dos grãos coincide com temperaturas altas e déficit hídrico.
Podridão vermelha do colmo (Fusarium moniliforme): doença que afeta o enchimento dos grãos e enfraquece o colmo, causando o seu tombamento e/ou quebramento. O fungo também pode infectar as raízes, causar podridão de sementes e morte das plântulas.
Na alimentação humana, a adição de sorgo à dieta é uma alternativa viável para o controle da glicemia de pacientes com diabetes ou pré-diabetes. O tema foi estudado na tese de doutorado sobre sorgo da nutricionista Pamella Cristine Anunciação.
A pesquisa foi conduzida na Universidade Federal de Viçosa (UFV) e contou com a parceria da Embrapa Milho e Sorgo (MG), Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ) e da Universidade Federal de Juiz de Fora.
A pesquisa avaliou o efeito do consumo de uma bebida contendo sorgo na glicemia após uma segunda refeição, em pessoas que possuem peso adequado para sua estatura e que têm uma taxa de glicose e insulina normais. Os resultados comprovaram que a inclusão de sorgo na dieta pode manter a glicemia mais constante, sugerindo o potencial do cereal para o tratamento nutricional de pacientes com diabetes ou pré-diabetes.
“Por ser rico em fibras e amido resistente, o sorgo é lentamente digerido pelo organismo, o que permite uma absorção de glicose mais lenta, evitando picos na glicemia. As fibras dietéticas chegam intactas ao intestino e, assim, o esvaziamento gástrico é mais lento, diminuindo a taxa de digestão e a absorção dos carboidratos”, explica Pamella.
De acordo com a pesquisadora, o efeito do sorgo na resposta glicêmica observada é de relevância clínica, especialmente para pessoas que apresentam diabetes tipo 2, em que a síntese de insulina está reduzida e que precisam de algum estímulo para aumentar a secreção de insulina.
Para Pamella, o sorgo ainda não é muito consumido no Brasil para alimentação humana talvez por questões culturais, seja pelo desconhecimento dos seus benefícios para a saúde ou devido à baixa disponibilidade de produtos à base de sorgo no mercado.
A nutricionista destaca que o sorgo é uma alternativa aos cereais convencionais por ser uma excelente fonte de compostos bioativos, como ácidos fenólicos, flavonoides, taninos, antocianinas, vitaminas e fibra alimentar. “Essas características contribuem para a alta capacidade antioxidante do cereal. O consumo de produtos à base de sorgo também pode ser útil para reduzir o risco de doenças crônicas não transmissíveis”, diz.
A pesquisadora cita outro estudo no qual verificou uma maior aceitação de cereal matinal à base de sorgo em relação ao cereal matinal à base de trigo, mesmo sendo pouco conhecido pela população brasileira.
“Acredito que a tendência é aumentar a disponibilidade de produtos à base de sorgo pela indústria alimentícia, visto que o sorgo não contém glúten, é seguro para o desenvolvimento de produtos para indivíduos que têm doença celíaca ou alguma intolerância ao glúten. Além disso, o sorgo tem sabor suave, tem menor custo de produção comparado a outros cereais, fatores que são de interesse para a indústria alimentícia”, afirma Pamella.