Nematoides: Impactos no sistema de produção na cultura do milho
Descubra como a infestação de nematoides nas raízes do milho está afetando a agricultura global e como eles comprometem o desenvolvimento.
Descubra como a infestação de nematoides nas raízes do milho está afetando a agricultura global e como eles comprometem o desenvolvimento.
Escrito por Henrique Gonzalez Zanardo, agrônomo de campo da Brevant® Sementes.
A agricultura desempenha um papel fundamental na segurança alimentar global e a cultura do milho é uma das mais importantes em todo o mundo. No entanto, os agricultores enfrentam uma série de desafios. Entre eles, vale ressaltar a infestação por nematoides nas raízes. Uma questão que está ganhando grande destaque atualmente.
Primeiramente, trata-se de vermes não segmentados que pertencem ao filo Nematoda. Eles podem ser encontrados em diversos ambientes, incluindo o solo. Ali, desempenham atividades importantes, tanto positivos quanto negativos, na ecologia do solo e na saúde das plantas. No contexto de grandes culturas como milho, soja e algodão, elevadas populações desta praga podem gerar impacto significativo. Consequentemente, afetando o desenvolvimento e a produtividade destas culturas.
Podem atacar as raízes das plantas de milho e causar sérios danos ao sistema radicular, reduzindo a absorção de nutrientes e água pela planta. Os principais tipos para esta cultura são os nematoides das lesões (Pratylenchus spp.) e os nematoides das galhas (Meloidogyne spp.). Diferente de outras culturas que esses mesmos nematoides atacam, como por exemplo a cultura da soja, onde é perceptível na lavoura a formação de reboleiras em áreas mais afetadas, no milho é menos visível, na maioria das vezes. Mesmo com uma percepção visual menos evidente em partes aéreas, essas pragas podem reduzir o rendimento da cultura, causando perdas econômicas cada vez maiores se métodos de controle não forem adotados.
Veja abaixo um mapa gerado pela Corteva Agriscience com a distribuição de Pratylenchus spp. no Brasil.
Podemos notar que, dentre 3.816 amostras de solo e raízes, 58% delas evidenciaram presença de Pratylenchus spp. Além disso, do total de amostras coletadas, 39% delas foram classificadas com alto nível de infestação, fato que nos indica que uma grande quantidade de área agricultável no Brasil está em nível crítico dessa praga.
Ciclo de vida e reprodução dos nematoides
Têm um ciclo de vida complexo, que inclui estágios de ovo, larva, juvenil e adulto. Além disso, eles se reproduzem de forma sexuada ou assexuada, dependendo da espécie.
Causam danos diretos às raízes, resultando em sintomas como necrose, inchaço e deformação.
Os danos nas raízes comprometem a capacidade da planta de absorver água e nutrientes do solo, impactando diretamente seu desenvolvimento e produção.
O estresse causado pelos nematoides pode predispor as plantas a infecções por patógenos secundários, como, por exemplo, a entrada de Fusarium spp. pelas raízes.
Condições climáticas, como temperatura e umidade do solo, afetam a atividade e a reprodução dos nematoides.
Práticas agrícolas precisam ser modificadas em determinadas situações, como, por exemplo, o sentido de plantio, para evitar a dispersão do nematoide para o talhão inteiro, bem como a limpeza do maquinário ao mudar de talhão, e se o maquinário for alugado, a atenção deve ser ainda maior.
Solos em pousio infestados com plantas daninhas e plantas tigueras são ambientes favoráveis para que os nematoides continuem se reproduzindo na área, potencializando o fator de reprodução mesmo sem uma cultura estabelecida.
A rotação de culturas com plantas de baixo fator de reprodução de nematoides pode ser uma das ferramentas necessárias para reduzir a população de nematoides, especialmente utilizando determinadas espécies de Crotalária ou Brachiaria. A Brachiaria exerce uma função que vai além de reduzir a população de nematoides por si só, pois ela promove um solo saudável e bem estruturado, que pode favorecer organismos benéficos, como predadores naturais de nematoides, e dificultar a movimentação e o estabelecimento dos nematoides patogênicos.
Considerar a escolha de híbridos de milho com baixo fator de reprodução de nematoides é uma alternativa interessante no manejo.
O uso de nematicidas biológicos é outra opção que vem ganhando bastante espaço no agronegócio brasileiro.
A realização de amostragens de solo e raízes é essencial para monitorar a presença e a densidade populacional de nematoides.
Implementar estratégias de controle adequadas requer a identificação precisa da espécie de nematoide, já que para cada uma delas existem distintas formas de agir em prol da redução da infestação.
Produtos biológicos: uma solução sustentável
O aumento da conscientização sobre os efeitos no meio ambiente e na saúde humana tem motivado a busca por alternativas aos produtos químicos usados na agricultura.
Os agentes biológicos surgem como uma solução promissora para o manejo de nematoides na produção de grãos. Organismos vivos, como bactérias, fungos, nematoides predadores e microrganismos benéficos podem interagir favoravelmente com os nematoides fitófagos.
O Bacillus amyloliquefaciens cepa PTA-4838 é uma bactéria do solo que tem mostrado grande potencial no controle de nematoides, pois possibilita a redução de danos às raízes devido à formação de biofilme, gerando uma barreira física na rizosfera das plantas, bem como ação de desorientação dos nematoides, por consumirem exsudatos das raízes das plantas, sendo a forma pela qual os nematoides rastreiam as raízes das plantas (ação nematostática). Também apresenta ação nematicida, através de liberação de proteases, quitinases e amilases, que podem decompor a parede celular dos adultos e ovos.
Além de ser eficaz no controle de nematoides, essa cepa de B. amyloliquefaciens é capaz de produzir hormônios vegetais (AIA, ACC e AJ), promovendo um melhor desenvolvimento do sistema radicular, resultando em melhor absorção de água e nutrientes e garantindo melhor capacidade de tolerar períodos de maior estresse hídrico na cultura.
Fonte: Eisenback, J. In: Ferraz, L. C. C. B.; Brown, D. J. F., 2016. (https://nematologia.com.br/files/livros/1.pdf)