Blog •  16/10/2024

Cigarrinha-Africana em São Paulo: Plantas Hospedeiras e Impacto

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A cigarrinha-africana foi detectada em várias regiões do Brasil, mas não se reproduz no milho. Saiba mais sobre as plantas hospedeiras.

 

A primeira ocorrência da cigarrinha-africana, Leptodelphax maculigera (Stål, 1859) (Hemiptera: Delphacidae), no Brasil, ocorreu no estado de Goiás. Inicialmente, essa praga foi identificada em plantas voluntárias de milho, capim-elefante e capim-braquiária. Além de plantas daninhas em cultivo de feijão e em armadilhas adesivas, tudo isso no ano de 2022 (Ferreira et al., 2023). Além disso, no dia 1º de setembro de 2023, a mesma espécie foi encontrada, pela primeira vez, no estado de São Paulo. Isso ocorreu no município de Mogi Mirim (SP), na propriedade de Valdi Guerra (-22.4568219; -47.0560098). Posteriormente, no dia 18 de outubro de 2023, a cigarrinha-africana foi novamente detectada, dessa vez na propriedade de Carlos Francisco Piccoli (-22.4387610; -47.0502739).

Os insetos foram coletados com o auxílio de rede de varredura sobre plantas de capim-elefante (Pennisetum purpureum) (Schumach). Além disso, adultos da cigarrinha-africana foram visualizados em plantas de milho e capturados em armadilha luminosa (-22.4481374; -47.0685015) na estação de pesquisa da Corteva Agriscience em Mogi Mirim–SP, em novembro de 2023.

Figura 1. Adulto de Leptodelphax maculigera em planta de milho. Mogi Mirim (SP).

Foi constatado em folhas de capim-elefante que L. maculigera tem o hábito de oviposição semelhante à cigarrinha-do-milho, Dalbulus maidis (DeLong & Wolcott) (Hemiptera: Cicadellidae), ou seja, de forma endofítica.

Figura 2. Postura endofítica de Leptodelphax maculigera em folha de capim-elefante.

Identificando a cigarrinha-africana

A identificação da cigarrinha-africana foi realizada por meio das principais características taxonômicas de L. maculigera. Entre essas características, destacam-se a presença de um esporão na junção da tíbia com o tarso do terceiro par de pernas, a coloração do clípeo, as antenas com pedicelo dilatado, além do tamanho em comparação à D. maidis. Além disso, a fêmea de L. maculigera apresenta porte maior em relação ao macho.

Figura 3. Macho e fêmea de Leptodelphax maculigera em vista lateral. Mogi Mirim (SP).

Adicionalmente, ao serem dispostos ventralmente, observa-se que os adultos (machos e fêmeas) de L. maculigera apresentam uma mancha escura no clípeo.

Figura 4. Macho e fêmea de Leptodelphax maculigera em vista ventral com mancha escura no clípeo. Mogi Mirim (SP).

Por outro lado, a cigarrinha-do-milho D. maidis exibe duas máculas na parte frontal da cabeça, as quais não são observadas em L. maculigera.

Figura 5. Leptodelphax maculigera (A) e Dalbulus maidis (B) em vista dorsal. Mogi Mirim (SP).

Além disso, a presença de um esporão na junção da tíbia com o tarso foi também notada nos insetos adultos.

Figura 6. Presença de esporão na junção da tíbia com o tarso de Leptodelphax maculigera. Mogi Mirim (SP).

Por fim, a ninfa de L. maculigera possui uma coloração clara, semelhante à da cigarrinha-do-milho, entretanto, a ninfa da cigarrinha-africana exibe um clípeo de coloração escura, o que permite a sua identificação ainda na fase jovem, com base nessa característica taxonômica.

Figura 7. Ninfas de Leptodelphax maculigera em vista dorsal e ventral. Mogi Mirim (SP).

Estudos sobre cigarrinha-africana

Foram coletados indivíduos de L. maculigera e D. maidis com o objetivo de estabelecer uma criação na Estação de Pesquisa da Corteva Agriscience em Mogi Mirim (SP). Em seguida, foram realizados testes para avaliar potenciais plantas hospedeiras. Para tanto, a capacidade de multiplicação de L. maculigera e D. maidis foi avaliada em diferentes plantas, incluindo milho, sorgo, milheto e capim-elefante (conforme Tabela 1). As plantas, por sua vez, foram infestadas 30 dias após o plantio.

Tabela 1. Avaliação da presença de ninfas (L. maculigera e D. maidis ) 15, 30 e 45 dias depois da infestação em milho, sorgo, milheto e capim-elefante em condições controladas de casa de vegetação no município de Mogi Mirim (SP).

Tabela 2. Contagem do número de adultos (L. maculigera e D. maidis) 50 dias após infestação em milho, sorgo, milheto e capim-elefante em condições controladas de casa de vegetação no município de Mogi Mirim (SP).

 

Resultados obtidos

O estudo preliminar com potenciais plantas hospedeiras para a multiplicação da cigarrinha-africana revelou que essa praga conseguiu se desenvolver em sorgo, milheto e capim-elefante. Em contrapartida, no milho, embora tenha sido observada a presença de ovos, não foram detectadas ninfas ou adultos. Isso sugere que a cigarrinha-africana não se reproduz nesta planta. Por outro lado, em relação à cigarrinha-do-milho, não houve multiplicação em sorgo, milheto e capim-elefante. Porém, conforme esperado, houve reprodução no milho, corroborando assim com estudos preliminares realizados pela Corteva Agriscience.

Além disso, das cigarrinhas coletadas em campo, alguns exemplares foram enviados para análise PCR. Outros, foram mantidos em gaiolas contendo capim-elefante (hospedeiro original) e plantas de milho contaminadas com o complexo de enfezamentos (Maize Bushy Stunt Phytoplasma, Maize rayado fino virus e Spiroplasma kunkelii). Após 60 dias de confinamento nas gaiolas, foi realizada a análise PCR para detecção das doenças pertencentes ao complexo de enfezamentos do milho.

Dentre os 15 indivíduos coletados e enviados para PCR, 13,33%, 6,66% e 6,66% apresentaram resultado positivo para Maize Bushy Stunt Phytoplasma, Maize rayado fino virus e Spiroplasma kunkelii, respectivamente. Por outro lado, dos indivíduos mantidos em gaiolas, 70% apresentaram resultados positivos para Spiroplasma kunkelii e 80% para Maize Bushy Stunt Phytoplasma. Ressalta-se que não foi realizada a análise para detecção de Maize rayado fino virus.

Conclusão

Em nossos estudos preliminares, identificamos que L. maculigera hospeda todos os patógenos do complexo de enfezamentos do milho. Além disso, sua rápida detecção em várias regiões indica que essa cigarrinha já está amplamente distribuída no Brasil e possivelmente presente há algum tempo. Contudo, como esse inseto não se reproduz em milho, não o consideramos uma praga significativa para essa cultura. Apesar disso, iremos monitorar e estudar L. maculigera para entender sua evolução e por que é frequentemente encontrada em cultivos de milho, mesmo sem se reproduzir neles.

Autores:

Josemar Foresti, Dr.: Site Leader - Crop Protection, Discovery & Development. E-mail: josemar.foresti@corteva.com

Renata Santos, Ms.: Field Scientist - Crop Protection, Discovery & Development. E-mail: renata.santos-2@corteva.com

Paulo Roberto da Silva, Dr.: Pesquisa Agronômica - Cerrados. E-mail: paulor.silva@corteva.com

Thiago L. Costa, Dr.: Field Scientist - Crop Protection, Discovery & Development. E-mail: thiago.costa@corteva.com

Referências:

Attié M., Bourgoin T., Veslot J., Soulier-Perkins A. (2008). Patterns of trophic relationships between planthoppers (Hemiptera: Fulgoromorpha) and their host plants on the Mascarene Islands. J Nat Hist 42:1591–1638. https://doi.org/10.1080/00222930802106963.

Bortolotto O. C., Molinab R. O., Garciab M. H., Pazinic J. B., Andraded C. C. L., Mitutid T. (2023). Leptodelphax maculigera - first occurrence in Southern Brazil and potential rayado fino vector. Brazilian Journal of Biology, vol. 83, e277457. https://doi.org/10.1590/1519-6984.277457.

Ferreira, K. R., Bartlett, C. R., Asche, M., Silva, L. R., Magalhães, V. S., & Gondinho, K. C. A. (2023). First record of the African species Leptodelphax maculigera (Stål, 1859) (Hemiptera: Delphacidae) in Brazil. Under Review at Neotropical Entomology. https://doi.org/10.21203/rs.3.rs-2818951/v1.